por um momento de segredo

ROOM⌋ | Studio ghibli, Ghibli, Ocean waves

 em uma noite, 

eu vivi longos anos

e me vi contemplando

minha antiga imagem.

a figura juvenil, mas madura,

 por um momento de segredo

me disse uma coisa:


nesta noite, 

eu conheci o mundo inteiro,

mas, por favor, criança

volte para casa.” 


tô sentindo falta de mim

esses dias to sentindo falta de uma parte de mim. 

ela foi roubada há um tempo, mas eu nem percebi. 

me contentei com a metade que restou

me acostumei com o pouquinho que sobrou 

que me esqueci 

não sou inteira sem uma parte de mim. 


esses dias to sentindo falta de uma parte de mim.

ela foi arrancada há um tempo, mas eu não liguei. 

me contentei com a metade que restou. 

já estava acostumada com migalhas que nem me importei em tomá-la de volta, a parte de mim que me faz ser eu. 

desaprendi. 

desesperada, li os manuais e segui os passos para me refazer, mas aquela parte permanece perdida. 

ela precisa ser reescrita, mas me fogem às palavras, elas correm pelos meus dedos e se escondem na ponta dos meus pés, impenetráveis. 

uma dúvida. 

como posso me tornar inteira com metade de mim? 

é uma pergunta que pergunto ao profundo buraco tão cheio de nada, tão vazio de tudo. 

não há resposta. 

os manuais são inúteis. 

tento copiar aqueles a minha volta, mas suas partes não me servem, são a peça errada desse quebra cabeça incompleto. 

e agora? 

me conformei, me acostumei com metade de mim. 

e parece impossível me completar, minhas partes roubadas vagam por uma neblina fosca e cinzenta, e já nem se lembram do que deixaram para trás. 


2018.

que se exploda

o tempo inteiro,
eu só tenho vontade de chorar
eu só sinto vontade de chorar
o tempo inteiro
francamente, que se exploda
essa merda de mundo

para naya

Amor, carinho e saudades: O legado de Naya Rivera em Glee

eu não acredito que isso está acontecendo. não acredito que estou dizendo adeus a mais uma pessoa que foi tão importante na minha adolescência e na minha vida. a ficha demorou muito a cair, mas eu sinto que eu precisava vir e escrever, dar meu último adeus à você, naya. sua voz sempre foi uma das minhas preferidas de todo o elenco e sua presença era tão forte que você foi se destacando e pouco a pouco conquistou o seu espaço na série. você ainda tinha tanto a viver, tanto a fazer, você merecia ver seu filho crescer e ele merecia ter a mãe dele ao lado dele para sempre. no primeira dia do desaparecimento, eu tinha tanta esperança e até rezei pela primeira vez em muito tempo. não tenho fé cristã e nem em nenhuma outra entidade, mas eu rezei para que você estivesse bem. mas não foi o suficiente. você deu a vida para que seu filho ficasse em segurança, esse pequeno pedacinho de você. para sempre, você vai estar em nossas memórias, na música e nos episódios de glee. obrigada por tudo, obrigada por ter compartilhado o seu talento conosco. não sei se conseguirei ouvir a sua voz e não chorar, mas eu vou tentar porque você é tão maior do que essa tragédia e sua voz sempre me foi um lugar de conforto. espero que o cory te faça uma boa companhia no céu, eu te amo muito ♥

       

you are the best thing, that's ever been mine...

Capitu (tu)


Capitu,
tu não vens mais aqui
sinto falta dos teus beijos
sinto falta de ti

meu amor,
por que estás assim?
há tanto tempo não te vejo
há quanto tempo não sorrir?

a vida é assim
o sonho acabou 
bem longe de mim
está o que restou
não sei mais fingir 
que ainda sou
a mesma pessoa

Capitu,
vai ficar tudo bem
digo isso a mim mesma
e a tu também

meu amor,
o tempo é traiçoeiro
me derrubou
e tirou meu sossego

capitu,
diz que vai ficar tudo bem
diga isso a si mesma
e a mim também

2016. para t.

Monólogo de improviso no banheiro ou sobre rompimentos e pessoas filhas da puta

Animated gif about gif in anime|manga by Coldwave of May

(MARIA vê a amiga sentada, ela se aproxima e se posiciona ao lado da amiga, ficando de frente para um espelho. Diante da amiga, estão varias fotos reveladas dela e de seu namorado. Duas lágrimas estão secando em ambos os lados da face de MARIA. A amiga está fumando e percebe a cara de choro de MARIA.) 

AMIGA: Você estava chorando? 

MARIA: (Olha para o espelho) Tá tudo bem... (Pausa) eu só... Tava aqui lembrando. (Ri sem graça) Desde o início da noite que eu to com essa sensação estranha. To sentindo falta. Não to conseguindo dormir. Acho que esse é o pior sentimento, sabe? Porque é a saudade, mas num to lembrando com carinho não. É a saudade com a realização de que tudo acabou. Não tem mais volta. Você lembra e percebe que não vai ter mais. Essa é uma das piores. (Ri de novo) Só não é pior do que eu sentia antes. Aquele aperto no peito. Eu podia tá quietinha, nem pensando em nada, mas a dor no peito tava ali para me lembrar de tudo. (Limpa o rosto com as mãos) Quando eu sinto raiva é até bom porque ai eu jogo tudo nele e não dou tanta importância. Mas quando bate a saudade e o carinho vem junto... ai é foda porque eu sinto falta de tudo. Dele, dos nossos momentos, das conversas. Me dá até vontade de olhar... a conversa. Não para ler, isso não. Só para a ver a foto de perfil mesmo, sabe? (Pausa, súbita irritação) Mas também para que, né? Eu fico com o sorrisinho no rosto só em lembrar das que ele falava: “To com saudades de você”, “To com saudades do teu beijo” e quando ele falava que tava louco para me foder. Mas me foder de um jeito bom. Com prazer. Não desse jeito aqui. E agora eu to aqui né, destruída, dilacerada por dentro enquanto ele deve estar lá, feliz, apaixonado. Junto dela. Porque nunca fui eu, né? Sempre foram outras. Sempre existiram outras. Mas eu ficava lá feliz quando recebia as mensagens, lembro da expectativa, do nervoso. Eu toda apaixonada e caindo nesse papinho de besta. Me mandando mensagem, perguntando como eu to, como se se importasse verdadeiramente comigo. Eu nunca pensei que ele estivesse apaixonado por mim e eu nunca exigi nada, mas toda vez ele vinha com a porra da mensagem. “Queria que a gente conversasse mais. Já que a gente não pode se ver. A gente pode conversar.” E naquele momento eu, eu pensei, eu acreditei que algo estivesse nascendo ali e se desenvolvendo e eu nem sei. Achei que... que algo estava se construindo. Aconteceu com todo mundo, né? Por que não pode acontecer comigo? Eu ficava nessa fantasia, mas no fundo, bem lá dentro tinha aquela voz que eu queria calar. Fingir que não existia. A voz que sabia da verdade. Por que... como que você fala isso para alguém e no dia seguinte desaparece? E quando eu ia atrás, porque eu sempre ia, fingia que nada tava acontecendo. “Oiii”, “ta tudo bem sim”. E eu ficava como? Maluca, né. Preocupada. Será que ele tá doente? Será que ele ta ocupado com a faculdade? Idiota, né. Mas eu acreditei porque ele me dizia. Sabe o que foi a nossa última conversa? Antes de tudo isso? Eu postei um negócio lá no status falando de saudade, nada específico né, mas ele sabia que era para ele tanto que concordou. Depois sumiu. E eu lá, ansiosa, sem saber o que tava acontecendo. Quando ele voltou, eu já sabia. Eu só queria que ele tivesse sido honesto comigo antes. Porque eu perguntei, sim. Perguntei varias vezes. “Por que você tá falando essas coisas? Porque você faz isso comigo?” Mas ele não falava nada e eu perdia a minha cabeça tentando entender. Ele se apaixonou, né. Como? Porque você não se apaixona sem conversar com ninguém, sem interagir, ninguém se apaixona sozinho. Ou será que ele acabou tudo comigo e não tá nem junto dessa menina? Piada, né. Piada. Mas eu to bem sim, viu? To bem sim. (Finalmente percebe as fotos da amiga com o namorado). Amanhã é o dia dos namorados, né não? (A amiga afirma com um momento de cabeça). Meus parabéns, viu.  (Pausa) Felicidades ao casal. 

MARIA sai. 

Meus artistas baianos favoritos

Viagem dos Sonhos: Salvador no carnaval! - Diversão - CAPRICHO

Sendo uma pessoa que cresceu com a cabeça totalmente afetada pelo racismo em todos os âmbitos possíveis, na maior parte da minha vida, eu consumi apenas músicas estado-unidenses. Muito por influência da minha irmã que possuía vários CDs piratas com músicas de Beyoncé, Shakira e Rihanna, eu cresci cercada por músicas da língua inglesa. Em partes isso foi bom para mim, pois me permitiu entrar em contato com a língua numa idade muito nova e aprender o idioma por conta própria. Em contrapartida, foi ruim, pois me fez crescer ignorando a minha própria cultura e identidade. 

Até 2012, eu só consumia o falecido gênero Teen Pop, com Selena Gomez e One Direction sendo os meus artistas favoritos. Em 2013, eu tive minha fase emo e gótica e escutei muito rock naquele ano e foi ai que meu interesse por músicas nacionais começou a crescer. Passei a escutar Legião Urbana, Los Hermanos e etc.. Em 2014 eu já tinha dropado essa identidade gótica e estava na minha fase conceitual, ouvindo artistas considerados “indie”, que de indie mesmo não tinham nada por serem extremamente mainstream. No final daquele ano, já tinha começado a ouvir k-pop e foi o meu gênero preferido até 2017, quando eu comecei a perder o interesse. 

Apesar de 2016 ter sido um dos anos mais importantes da minha vida em questão da construção de minha identidade, ali eu só estava começando a me enxergar. 2018 foi o ano que tudo realmente se firmou. Fiz amizades com pessoas maravilhosas que me apresentaram muita coisa nova e que redefiniram a pessoa que sou hoje. Por isso, apresento para vocês os meus artistas baianos favoritos.

A carta de Dorival Caymmi endereçada à Jorge Amado para eu ler quando estiver triste


“Jorge meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci. Talvez Stela saiba, ela  sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês.  Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível. Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos  por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de  uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta. Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna.  

O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí. O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro.  Cadê tempo pra pintar? 

Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha? Pois ontem, às quatro da tarde, um  pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres,  já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem  nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.

Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James  e de João Ubaldo, daquelas duas ‘línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.

Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe  e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia. Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena,  como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho. A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.

bloco de notas (rascunhos e confusões mentais)


Me disseram que ser sensível é um dom,
É porque sou artista que eu sinto demais,
A minha emoção transborda e se transforma,
Talvez numa poema ou numa canção,
Meus versos são tristes e acanhados,
Minhas lágrimas saciam a minha sede de amor,
O meu carinho está nas palavras que nunca foram ditas,
Mas que estão na ponta dos meus lábios:
O meu amor é um mar de ondas cósmicas,
Que você nunca quis se banhar,
Se sou poeira,
Aprendi a ser inteira ao seu lado.
Ser sensível é um dom?
Ou é a minha maldição?

O adeus de verdade

Steam Community :: Screenshot :: .

Agora acabou. Dessa vez de verdade e eu não sei o que fazer. É confuso porque tudo aconteceu tão de repente. Meu peito está tão pesado e eu sinto como se um buraco tivesse se aberto ali. É difícil não criar paranoias e me encher de perguntas ainda mais quando nada está 100% claro. Você se apaixonou por outra garota. Quando? Quem? Porque há 2 semanas você estava falando que sentia minha falta e queria que conversássemos mais e então do nada você some e me aparece com essa “satisfação”, como você mesmo disse? Caralho, eu nem queria, mas só criei expectativas por culpa sua mesmo. Porque você falava que estava com saudades, você que queria conversar mais, você quem fez tudo e eu tentei manter esse sentimento o mais afastado possível, mas você só me alimentou. Dia após dia me enchia de migalhas e eu aceitava tudo. 
Eu criei tanta expectativa... de como seria te encontrar após a quarentena, de como seria perder a minha virgindade com você. Apesar de querer desde o inicio, eu precisei aprender a confiar em você e eu estava pronta, louca para que isso acontecesse e, novamente, você alimentou. Eu ainda sinto o seu gosto, sabia? Ainda lembro da sensação do seu toque no meu corpo, de quando você teve um orgasmo tão forte que você me envolveu nas suas pernas e eu pude literalmente sentir o que havia feito com você. E os seus gemidos... sua voz sempre foi a minha parte favorita do seu corpo, ela me deixava louca. Lembro de como você me puxava para perto para me beijar e depois sussurrava, com a voz manhosa e tão vulnerável, tão cheia de desejo “me chupa mais um pouco” e claro que eu chupava porque eu adorava sentir o seu gosto. 
E durante todo esse tempo, meu corpo ansiava pelo seu toque, queria que você me fizesse gemer e me deixasse louca. Eu queria tanto... e você parecia querer também. Então que merda aconteceu? De onde essa garota surgiu? Que tipo de deusa ela é para fazer você se apaixonar tão rápido? Há quanto tempo isso vinha acontecendo? Eu estou aqui tem quase um ano. Literalmente. Dia 30 faz um ano que isso tudo começou e tudo o que eu conseguia pensar era se você se lembrava disso. Que merda aconteceu nessas últimas três semanas? Nada faz sentido, mas eu sempre esperei que esse dia fosse acontecer, por isso não estou surpresa... só magoada que eu estava certa e aparentemente não era o suficiente para você. Eu não to me sentindo mal comigo mesma, ainda bem, mas eu to triste para caralho. Eu achei que dessa vez fosse de verdade, mas talvez eu não seja a única atriz aqui, não é?
A última vez que nos vimos... nós ficamos abraçados, sua cabeça no meu peito e eu fazia carinho no seu cabelo. Você ficava me olhando do nada... um olhar que, sinceramente, me confundia e fazia achar que havia algo especial ali. Foi tudo tão intimo e eu me senti tão feliz. No final você deu aquele selinho e eu pensei que fosse sair flutuando. 
O foda é que eu não me arrependo de nada. Você foi uma das melhores pessoas que eu conheci e eu tive experiências maravilhosas ao seu lado. Posso não ter significado nada para você, mas certamente você significou muito para mim. Só fico triste que tudo tenha terminado assim, tão do nada e sem uma explicação coerente. Eu sabia que ia acabar só não achei que fosse rolar tão cedo. Pelo menos eu não estou chorando agora. Apesar de estar com sono, não consegui dormir, porém não passei a madrugada pensando em você. De vez em quando o pensamento vinha, mas não forte o suficiente para me derrubar. Sinceramente, já senti muita raiva e se te visse agora, te daria um murro, mas espero que você seja feliz. A outra parte de mim também espera que esse relacionamento fracasse e que você sofra. To meio dividida, mas acho que é normal. Esse adeus agora é de verdade e eu ainda não me sinto pronta para te deixar ir. Vou dar tempo ao tempo e vou me permitir sentir. Eu sei que eu vou me curar. Eu sei que eu vou ficar bem. Só é uma pena que você não tenha visto o quão incrível nós dois poderíamos ser. Você perdeu uma pessoa maravilhosa, Arthur, mas ai já é com você. 

todos os dias são os mesmos

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Queria poder enxergar o momento como algo passageiro. Vai passar, eu sei, mas quando? 
Quantos dias da minha vida e o resto da minha juventude estarei desperdiçando presa neste quarto? Enquanto pessoas adoecem, desfalecem e são enterradas sem que ninguém chore por elas. Estamos anestesiados a tragédias? 9 mil mortos não é o suficiente? Estou sendo egoísta por querer sair, ver meus amigos e fazer as coisas que eu gosto? É egoísta pensar que queria estar na rua, quando, na realidade, não consigo dormir e se durmo é durante um dia inteiro e quando percebo, pronto, 24 horas se passaram, um dia a menos nesse mês, um mês a menos nesse ano e um ano a menos na minha vida. 
Sou idiota por me sentir culpada POR não conseguir fazer nada? Por não conseguir ser produtiva? Por não estudar? Acordar às 07:00 da manhã, me alongar, fazer yoga, tomar um café saudável, estudar mais, fazer exercício, praticar o violino e comer? Sou egoísta por não conseguir comer sendo que há pessoas lá fora que estão se arriscando para ter o que comer no final do mês?
Sou patética por só pensar nele e querer vê-lo bem, querer beija-lo e não aguentar de saudades?
São 9 mil mortos. 
O que eu devo fazer? 
O que é que eu posso fazer?
Porque eu não vejo esse pesadelo tendo fim tão cedo e eu estou apavorada. Quando eu puder sair nas ruas nem sei se irei conseguir porque se eu pegar esse vírus eu vou morrer. Porque tenho uma merda de uma doença, porque sou fraca, porque não me alimento direito.. porque.. porque..
Todos os dias são os mesmos e eu estou vivendo o meu próprio pesadelo porque eu não estou vivendo. Isso não é viver, é sobreviver. É uma vida sem proposito. É ver os dias passarem e não fazer nada de diferente. É o meu inferno e eu não sei lidar com isso. 
Só sei escrever. 
É isso o que eu vou fazer. 
Você me disse que a gente vai sobreviver. 
Só espero que você esteja certo. 

uma carta de amor



Meu bem,

Essa não é a primeira vez que te escrevo ou que escrevo uma carta de amor, mas é a primeira vez que eu te falo sem medo, sem barreiras e deixo o meu amor transbordar. Eu nunca pensei que fosse viver as coisas que vivi com você. Nunca pensei que alguém fosse se interessar por mim, mas você chegou à minha vida e bagunçou tudo. Num sentido bom. Você chegou e agora eu só quero que você fique não para sempre, mas enquanto durar.

Você se lembra do nosso primeiro beijo? De como você aproximou o meu corpo do seu para se proteger do frio? Pois eu me lembro de cada detalhe daquela noite. Nós estávamos tão próximos e você me olhava daquele jeito... era desejo e era carinho e era vontade de. Eu sabia o que ia acontecer e estava tão nervosa, não conseguia nem me mexer e então você segurou o meu queixo e me beijou, não sei quanto tempo durou, mas eu me senti tão entregue e protegida e segura. Por mais clichê que isso soe, éramos só nós dois ali, naquela praça enorme, tarde da noite, no meio da chuva. Eu sorri, toda boba, e escondi meu rosto no seu peito. Seu coração batia tão forte ou eu estava confundindo os seus batimentos com os meus?

Se você me perguntar por que eu gosto tanto, tanto de você, eu tenho várias respostas para isso, algumas óbvias e outras nem tanto. Eu gosto de você porque eu não te planejei, não criei você na minha mente e então decidi me apaixonar. Só... aconteceu. Aconteceu nas primeiras semanas e por mais que eu tenha tentado céus, eu não consigo não gostar de você. E conforme o tempo passa o sentimento só cresce e isso é assustador para caralho porque talvez você não sinta o mesmo, mas sinceramente? Eu não to nem ai, eu to me sentindo bem como não sentia há muito tempo... eu me sinto viva.

Você é incrível e tão inteligente. Eu amo conversar com você, nesses momentos eu sinto tanta fome, uma vontade insaciável de conhecer cada pedacinho que forma o teu ser. Eu amo que você não tem vergonha de se mostrar vulnerável e humano. Eu amo o teu carinho, amo o seu beijo e como eu amo a sua voz. Eu poderia te ouvir falar por horas, chamando o meu nome ou falando qualquer coisa idiota para gente rir.

O principal é que você me mostrou uma forma diferente de ver a vida, são tantas possibilidades e eu quero experimentar tudo. Vai ficar tudo bem se nada evoluir disso, se você for um evento passageiro, mas saiba que você marcou a minha história da melhor maneira possível. Eu te quero aqui, mas tá tudo bem se você não quiser. Acontece, meu bem, que eu gosto de você para caralho e eu não sei o que fazer com esse sentimento (explosão). Então eu escondi explodir aqui nesse espaço só nosso. Espero que eu tenha feito sentido porque estou sentindo tantas coisas agora... só queria poder te ter ao meu lado agora... eu só queria...

Com amor,
Malu

eu não quero brincar de amor

nessie - um e meio - Wattpad

Eu nunca vou ser amada? Eu queria não bater tanto nessa tecla, mas, no fim do dia, quando minha mente está impregnada com imagens de casais que vi na televisão ou no Instagram das minhas amigas, esse é o questionamento que fica: eu nunca vou ser amada?
Ninguém nunca vai gostar de mim? Eu não quero brincar de fazer amor, quero ser amada de verdade, por inteiro. Quero que seja real. Quero sentir a dor, a euforia, o carinho, mas não quero fazer isso sozinha. Quero mensagem de bom dia, quero um “avise quando chegar em casa”, quero ver filme e isso ser só uma desculpa para gente se pegar loucamente, quero fuder, mas quero que seja com carinho, com paixão, com sentimento. Quero que alguém goste tanto de mim que só de pensar em não me ter, dói. Quero que doa assim como dói em mim. Quero ser retribuída. Quero ser amada. É pedir demais?
Mas também não quero idealizar o amor. Não quero pensar que a vida é um conto de fadas. Não quero me apaixonar e me consumir. Quero me apaixonar e ainda ser eu e quero que isso seja suficiente. Não quero que você seja o meu tudo, nem quero que você seja meu. Mas eu quero ter alguém, sabe? Não no sentido egoísta, só quero um companheiro, alguém. 
Eu cansei de brincar de amor.
Cansei do faz de conta. 
Só queria que dessa vez fosse de verdade. 

#1 capitães de areia

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Recentemente eu fiquei obcecada por uma novela da Globo e comecei a assisti-la depois que ela saiu do ar. Isso mesmo, achei um site pirata dos bons, sem vírus nem nada e com todos os capítulos disponíveis lá. A novela me chamou atenção por ter um ator talentosíssimo daqui de Salvador (e lindo também) e por falar sobre livros. A novela é bom sucesso e sim, eu passei as últimas semanas maratonando uma novela da Globo como se fosse série, mas é isso o que acontece quando você é uma jovem desocupada cuja única função social é estudar para o Enem e reclamar que precisa de um emprego. 

deixa a chuva cair.

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Naquele fim de tarde, a chuva estava tão intensa que era quase impossível para Sehun ver através das gotas de água. Ele, completamente encharcado, protegia-se com um jornal que segurava sobre a cabeça enquanto espremia os olhos na tentativa de visualizar o carro de seu melhor amigo na estrada pouco movimentada.

Ele voltava para casa após um dia longo na faculdade cheio de cálculos e provas. Contudo, no meio do caminho, foi surpreendido pela chuva que não cessou desde então. E não teve onde esconder-se, todos as lojas da avenida estavam fechadas e o ponto de ônibus encontrava-se longe demais, por isso, teve que se contentar com a porta de uma mercearia que mal o abrigava, xingando-se por 5 minutos por ter escolhido não pegar o ônibus. “São só 20 minutos de caminhada”, ele murmurou para si mesmo, irritado.

É verdade. O percurso da faculdade até seu apartamento é curto e ele, se distraindo facilmente com a paisagem, quase não nota o tempo passar. Mas, naquela tarde, ele deveria ter desconfiado do céu carregado. “É só uma nuvem chata”, murmurou novamente, em uma péssima e afinada versão de sua própria voz.

Sehun sentia frio e ele temia ficar doente justamente na semana final de provas do semestre. Ah, que raiva que sentia! Ele já estava parado ali, na porta da mercearia há horas (tudo bem, ele é um pouco exagerado), mas que ele estava ali há um bom tempo, isso é certeza.

Ele pensou que ficaria apenas por um tempinho até a chuva passar. No entanto, a maldita não passava! Por isso, deu o braço a torcer e resolveu pedir ajuda ao seu vizinho e melhor amigo Byun Baekhyun, que acabara de ganhar um carro de presente do pai por razão alguma. Baekhyun, como o preguiçoso que era, resmungou por uns bons 5 minutos até ceder e aceitar ir busca-lo. Porém, desde que ligara há 15 minutos, muitos carros passavam pela estrada e nenhum deles era o dele! Sehun não sabia o que ele tinha mais vontade: se era se matar por não confiar em suas intuições ou por confiar no Baekhyun.

Resolveu esperar um pouco mais, mas já começava a se indagar se não era melhor ir andando para casa, já que estava encharcado mesmo.

Mas ele esperou. E esperou. Observou o semáforo mudar de cor infinitas vezes, até que estagnou no sinal vermelho e foi nesse instante que a sedã preta parou, bem em frente a ele.

O motorista não buzinou nem nada, mas Sehun não quis saber, ele apenas amassou o jornal, colocou a mochila nas costas e foi andando até o carro. A porta já estava destrancada e ele entrou, simplesmente.

— Por que você demorou tanto? — ele perguntou ao fechar a porta.

O motorista usava fones de ouvido e parecia concentrado no celular, ele elevou os olhos brevemente para o olhar se o semáforo havia mudado, e sim, ele estava verde. Imediatamente, ele percebeu o que o retrovisor refletia no banco traseiro e virou-se bruscamente.

— O que você está fazendo no meu carro? — perguntou espantado. O garoto possuía cabelos loiros como o Baekhyun, mas ele não era o Baekhyun. Sehun não conseguiu conter o constrangimento e ficou estático, sem saber o que dizer.

— Quem é você? — o motorista loiro de traços delicados exigiu saber, desta vez com o tom mais firme.

— Ah, m-me desculpe! Eu... esperava um amigo e ele tem um carro como o seu, eu me confundi, desculpe... — Sehun respondeu rápido ao se recompor do susto, embolando-se em suas palavras. O motorista não deixou de exibir um semblante desconfiado, mas relaxou.

— Ah... — foi o que conseguiu dizer.

Passado o embaraço inicial, Sehun finalmente percebeu que havia se sentado no banco do desconhecido com as roupas molhadas.

— Ah, droga! Me desculpe por molhar o seu banco, é melhor eu sair! — ele preparava suas coisas quando o estranho disse de repente:

— Ei, já que você já está aqui, não quer que eu te leve a algum lugar? Quer dizer, até onde você possa se proteger da chuva, pelo menos. — ele falou meio desconcertado com a situação inusitada.

— Ah... Ok. Obrigado. — Sehun respondeu sem coragem para recusar. — Adiante tem um restaurante. Eu posso pedir para o meu amigo me pegar ali.

— Ok... — o motorista respondeu e virou-se a fim de encarar a pista, o sinal mudou para vermelho. Ele retirou o fone de ouvido e guardou o celular na bolsa que estava sobre o banco carona apenas para ocupar-se durante o silêncio estranho. Tudo o que se ouvia era o barulho da chuva caindo violentamente sobre eles e o batucar do motorista no volante, ansioso para pisar no acelerador.

O sinal abriu e o motorista acelerou, mas continuou dirigindo devagar, preferia ser cauteloso com a pista molhada. Sehun permaneceu quieto em seu assento, vez ou outra trocava olhares envergonhados com o loiro pelo retrovisor, mas ambos sempre desviavam rapidamente. Logo, eles chegaram ao restaurante e o motorista estacionou diante dele.

— Hum... chegamos! — ele disse, olhando Sehun pelo retrovisor.

— Sim, obrigado! — Sehun disse, desamassando o jornal que usava como guarda-chuva. — Desculpe por qualquer coisa... Dirija com cuidado! — ele disse ao motorista enquanto saia do carro, correndo até o interior do restaurante, sem ouvir o motorista lhe responder “de nada”.

Dentro do estabelecimento, Sehun se deu conta da situação e quis se enterrar em um buraco. Em sua mente, ele ficou repetindo “Eu te odeio, Byun Baekhyun! Eu te odeio” enquanto procurava pelo celular na mochila. Ele discou o número do vizinho, e agora, talvez ex-melhor amigo, furiosamente. O maldito atendeu na primeira chamada.

— Onde você está? — ele basicamente gritou a pergunta, mas se recompôs ao perceber que estava em local público.

— Ei! Por que você está gritando? — Baekhyun perguntou, calmamente. — Estou a caminho. Antes de vir, eu tomei banho e parei para comer. Onde você está?

— Tá, tá. Eu estou naquele restaurante vermelho da avenida. Só vem logo. — ele disse, sem paciência. Sentia-se exausto!

Alguns minutos depois, após a ligação, Sehun recebeu uma mensagem.

“Estou aqui”, ele leu e rapidamente saiu do restaurante. Antes de adentrar o carro, certificou-se de que era realmente Baekhyun quem dirigia. E, graças aos deuses, a pessoa sentada diante do volante era o seu vizinho preguiçoso.

— Eu te odeio! — essas foram as primeiras palavras que Sehun usou para cumprimentar o amigo no momento em fechou a porta. Baekhyun, alheio aos acontecimentos prévios, perguntou inocente:

— O que eu fiz?

E Sehun o contou, contou tudo, sem deixar os xingamentos direcionados ao amigo de fora. E Baekhyun, ansiando ganhar o título de “apenas vizinho e ex-melhor amigo”, riu. Simplesmente riu de toda a situação, gargalhando alto por todo o caminho até o edifício onde moravam.

Sehun, esquecendo-se de sua raiva, riu junto com ele. De fato, era uma situação engraçada, ele tinha que aprender a rir da vida e, às vezes, rir junto com ela.

Eles ainda comentavam sobre o incidente do Sehun quando subiam as escadas rumo ao terceiro andar e Sehun já começava a espirrar e a tremer de frio, por conta das roupas úmidas.

Quando finalmente chegaram, cada um, parado diante de sua porta, despediu-se e desejou boa noite ao outro.

2017. existiu uma época em que escrever era tudo para mim, a todo momento eu estava escrevendo besteiras como essa aqui, planejando histórias mais sérias... a vida sugou essa paixão de mim e agora eu quero retomá-la. eu planejo escrever um livro, não sei sobre o que ainda, só sei que ainda tenho muito a falar e a escrever. a adolescente que escrevia essas bobeiras cresceu e está pronta para se mostrar ao mundo. :)

urano

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Apertei a caneta preta entre os meus dedos com força. Mordi meu lábio, na tentativa de evitar um grito estridente. A dor se espalhou por todo o meu crânio fazendo-me gemer. Meus olhos já se enchiam de água, enquanto eu era torturada pela dor aguda.

Continuei a escrever. As letras tortuosas, uma caligrafia terrível.

Mas nada disso me importava agora.

... Eu não tenho a certeza de que o senhor lerá esta carta, mas eu lhe peço que, por favor, não me abandone agora... 

Uma gota de suor escorreu pelas minhas têmporas, logo a enxuguei.
Meu corpo estava quente. 

— Mackenzie? — a porta fora aberta, revelando a dona da voz fina que me chamara há alguns segundos.

Coloquei o pedaço de papel embaixo do meu travesseiro, em uma agilidade desconhecida por mim. Joguei a caneta para um canto qualquer do quarto.

— O que estava aprontando? — perguntou com frieza, se aproximando de mim e pondo as mãos na minha testa.

— Nada. — murmurei com dificuldade e virei meu rosto para encarar a janela trancada.

— Você está quente. — tirou suas mãos do meu rosto, caminhou até a cômoda abrindo a primeira gaveta para retirar um termômetro. — Vou colocar isso em você para ter certeza.
Levantei meu braço esquerdo para que ela pudesse colocá-lo.
— Minha cabeça dói. — sussurrei. Ela deu de ombros, desinteressada.

— É consequência da febre. — quando já estava a um passo fora do quarto, falou: — Durma um pouco.

Sua voz não soara nem um tanto preocupada ou carinhosa. Foi mais uma ordem.

A luz do quarto fora apagada e eu me encontrei sozinha nele, como costume.

Não senti a necessidade de terminar de escrever minha carta agora, pois meus olhos já pesavam – por eu não ter dormido noite passada, já que a tosse incessante me impediu -.

Eu nem percebi quando fechei meus olhos, mas ainda sentia o frio da ponta metálica do termômetro tocando minha pele. Retirei o objeto e o olhei.

39° graus de febre.

Eu queria vomitar.

△△△ Uranus

Ao acordar, já não me sentia mais assim tão mal. A dor ainda me perseguia. Todos os meus membros estavam doloridos, por isso não me esforcei para levantar da cama.

Não sabia que horas eram. Muito menos quanto tempo havia dormido.

Tateei pelo pedaço de papel, aonde havia escrito minha carta improvisada. Depois de bastante procurar o encontrei meio amassado, porém ainda legível.

Reli a carta.

Caro Senhor,
Olá! Desculpe-me por fazê-lo perder seu tempo lendo isso, mas acontece que eu sinto sua falta. Quer dizer, falta de suas cartas. De suas conversas, das suas distrações. Por que parou, uh? Deixei de ser interessante para você, ou você encontrou outra para conversar cara a cara e me esqueceu? Ou, na pior das hipóteses, morreu? Espero que esteja bem. E que este “desaparecimento” seja passageiro e que logo voltemos a nos comunicarmos, sim?
Banhei a carta com o meu perfume favorito. Queria que sentisse meu cheiro... Ao menos era. Não me perfumo mais, este aroma não me pertence mais. Perdi minha vaidade há tempos... Por que sabe... Estou doente. Minhas tias estão cuidando de mim (ou pelo menos tratando minha doença porque elas não me tratam bem) e eu não sei quando poderia ser feliz novamente. É um inferno! Estou presa no meu próprio quarto, com as janelas trancadas. Estou pálida, há muito tempo que não sinto o sol. E ontem ardia em febre.
Quero ter minha vida de volta. Quero minha liberdade. Não quero viver como prisioneira. E somente você sabia me alegrar nestes momentos ruins, apesar de não nos conhecermos realmente, sinto sua falta. Eu não tenho a certeza de que o senhor lerá esta carta, mas eu lhe peço que, por favor, não me abandone agora.
OBS: Sei que pediu para não chama-lo de senhor ou escrever tão formalmente assim. Desculpe-me, eu não consigo.

C. M.
Terminei de escrever e acabei sorrindo.

Estranho.

Lembro-me como foi o dia em que acidentalmente recebi, e com receber quero dizer ‘peguei escondido na caixa de correspondência’, a carta deste estranho que assina como “C. M.”, exatamente como minhas iniciais.

Nela ele perguntava coisas banais, mas que por algum motivo me alegram e por outro motivo mais estranho ainda me fez respondê-lo. Há cerca de três meses que conversamos, mas nas últimas semanas parou de me escrever. Logo quando adoeci e que precisava do apoio de alguém, mesmo que de um estranho.

A carta já estava finalizada e agora só precisava ser entregue.

Ai vem a parte difícil.
2014 ou 2015, provavelmente. até hoje eu não sei o que era para isso ser, mas vamos aceitar essa história pelo o que ela é. 

teoria das cores



O preto é percebido quando algo absorve praticamente toda a luz que o atinge. O preto é a cor do mistério e está associado à ideia de morte, de luto e de terror. Uma cor com valor de certa sofisticação e luxo. O uso em excesso estimula a melancolia, depressão, tristeza, confusão, perdas e medo. Por isso, na verdade jamais deveria ser usado por pessoas que acabaram de perder um ente querido como sinal de luto. É a "não" cor, ausência de vibração, cor das pessoas que buscam proteção ou afastamento do seu arredor. Indicada só para detalhes de acabamento ou objeto, pois pode deixar o ambiente muito escuro, a não ser que esta seja a intenção. O preto também pode sugerir silêncio.

Capítulo um: Ausência. 

Já é noite?

Indagou-se. Sua voz soou como um sussurro fraco e cansado no momento em que abriu os olhos e deparou-se com o nada. As cortinas estavam fechadas, ele não poderia saber, apenas deduzir, então continuou na mesma posição, imóvel, respirando. 

Ele ouviu dizer que inspirar pelo nariz e expirar pela boca gradativamente e repetidamente acalmava o corpo, os nervos, relaxava. Mas nada disso funcionava com ele, seus pulmões pesavam e a sensação de desespero lhe preenchia, pois sentia que sua asma atacaria a qualquer momento.

Ergueu-se. O movimento deve ter sido muito brusco e repentino para sua costela doer de forma tão aguda e latente que ele xingou, o palavrão escorregou por seus lábios antes mesmo que pudesse processar, mas, naquele momento, ele não se importou, caminhou até a janela. Com muito cuidado, espiou pela fresta da cortina e percebeu que estava certo. Apenas alguns meses de prática e entre erros e acertos ele finalmente estava pegando o jeito. Conseguia facilmente deduzir se já havia anoitecido. 

Era desconfortável andar, arrastar os pés pelo chão frio. Mesmo no escuro, ele sabia se guiar. Sua costela doía para caralho e ele só queria gritar, extravasar todos os palavrões que conhecia. Infelizmente, a mínima manifestação de dor era um luxo que ele não podia ter, então, por favor, mantenha sua boca calada e guarde o palavrão entre essas quatro paredes.  

Ele não tinha celular. O único relógio do hotel onde morava ficava na recepção e ele nunca se arriscava em ir até lá quando não era a hora certa. Mas como agora era a hora certa, espreguiçou-se e abriu as cortinas. A janela revelando nada além da escuridão já que neste lado do hotel não havia nenhum poste ou lâmpadas de iluminação. Ele preferia assim.

Mesmo no escuro, Oh Sehun conseguia se guiar pelo pequeno quarto. Encontrou seu armário e retirou dele seu uniforme de trabalho, vestiu-se sem pressa. A mão relaxando sobre a barriga, ele abriu a porta e espiou o corredor vazio, silencioso. Vagou solitário, rumo ao andar de baixo, tentando não fazer barulho. Não encontrou com ninguém. 

Sehun trabalhava para sobreviver. Não era algo especial, mas foi o único emprego disponível para alguém como ele. Não havia nada de especial em sua vida. E seus dados eram básicos:

Oh Sehun.

26 anos.

Sem parentes próximos.

Sem amigos.   

Zelador.

Nada mais a acrescentar. Ele costumava dormir durante todo o dia para poder trabalhar a noite tranquilamente. Sehun era um zelador de um colégio de ensino fundamental e ele trabalhava durante toda a madrugada, para chegar em casa no inicio da manhã. Às vezes, quando necessário, ele se obrigava a ir ao mercado e seu pior pesadelo era ter que interagir com a mulher do caixa quando lhe perguntava monotonamente se ele queria sacola de papel ou plástico.

Sehun não sabe explicar qual o motivo de sua rotina ser tão monótona e repetitiva. Não é sua culpa, afinal não é como se ele estivesse ciente dos últimos 20 anos de sua vida.

Perda total da memória.

Foi o que médico estrangeiro lhe disse quando ele acordou dois anos atrás na cama de um hospital público. Tudo lhe pareceu tão branco. Ele acordou sem saber seu nome, sua idade e até mesmo sua nacionalidade. Os exames negaram qualquer fratura. Não havia indícios de pancadas na cabeça e nem consumo de drogas ilícitas. Seu caso estava sendo estudado, mas ele cansou de ser cobaia e fugiu do hospital. Ele não ligava mais.

Tudo o que sabia sobre si mesmo se resumia aos últimos dois anos e alguns memórias. Existia uma lacuna em sua mente, buracos que talvez nunca fossem preenchidos. Ele havia separado a sua vida em dois períodos, o agora e o passado. E no agora, ele vivia solitário, confuso e triste.

Ele leu uma vez um artigo sobre o luto e descobriu que as pessoas usavam a cor preta para lamentar suas perdas. Sehun nunca havia se identificado tanto com algo, por isso pintou as paredes de seu quarto de preto, em luto por sua antiga vida que nunca retornará.

Seus sentidos foram sucumbidos pelas paredes pretas e madrugadas frias. O chão era a sua segunda pele. Sehun já estava enraizado no sentimento de falsa independência e auto desvalorização. Ele havia deixado de se importar. Seus sentimentos eram desnecessários e ele os afogava com álcool barato que comprava no bar da pensão.

Ele evita a luz do dia, pois não quer ter a sensação do sol aquecendo sua face. Não quer ver as pessoas lutando e vivendo suas vidas quando ele havia desistido totalmente da sua. Ele preferia e viveria assim até morrer, algo que não esperava que demorasse tanto. Ele espera a morte impacientemente. Por que não o levar logo?

Ele pensava e pensava e pensava. O que a morte tinha contra ele? A maioria das pessoas tinham medo de morrer, mas ele não. Ele a abraçaria como um amigo que nunca teve e sua alma seria feliz, pela primeira vez. Por que não ele? Nada o prendia aqui.

Só que havia algo. Existia um detalhe oculto. Sehun tinha vergonha de admitir para si mesmo, mas ainda havia algo.

Ele não sabe dizer quando começou. Ele só sabe que ele aparece em seus sonhos todas as noites, de formas diferentes. Como uma pessoa, um animal ou um objeto, mas Sehun sabe que ele está ali.

O sonho da noite passada foi um dos mais esquisitos. Desta vez, ele era uma árvore. Sehun nunca havia visto aquela árvore antes.

Mas ele conseguia ouvir a voz do desconhecido em sua mente, ecoando por seus ouvidos congelados.

“— Não. — ele diria com sua voz suave. — Não desista ainda. Ainda há muito que viver. Ainda há o que lembrar. Escute-me pelo menos uma vez... Não desista ainda.”

E Sehun obedecia. Ele era persuadido pela voz de veludo. Os céus gozavam de sua pessoa. Ele era um idiota por ouvir alguém em um sonho? Sim, mas era a única “pessoa” que conhecia e que zelava por ele. Mesmo que fosse apenas uma criação da sua mente. Uma tentativa desesperada para que el continuasse vivo. 

O dia seguinte será melhor. Pensava com esperança de que seus desejos se concretizassem. 

*
O branco é percebido em algo que reflete praticamente todas as faixas de luz. O branco transmite paz, de calma, de pureza. Também está associado ao frio e à limpeza. Significa inocência e pureza. O branco revela pureza, sinceridade e verdade; repele energias negativas e eleva as vibrações espirituais. Equilibra a aura e facilita o contato com os guias espirituais, promovendo o equilíbrio interior, a sensação de proteção. A luz branca traz todas as cores, ilumina e transforma. Ótima para qualquer ambiente, contudo se o local for totalmente branco pode se resultar em sensação de tédio e monotonia.

Capítulo dois: Presença

O branco é percebido em algo que reflete praticamente todas as faixas de luz. O branco transmite paz, calma, pureza. Também está associado ao frio e à limpeza. Equilibra a aura e facilita o contato com os guias espirituais, promovendo o equilíbrio interior, a sensação de proteção. 

Luhan coçou a nuca. Ele sentia todo o corpo tremer. Olhando em seu celular, era apenas três da manhã e ele não sabia o porquê, mas toda vez neste maldito horário, uma sensação esquisita o impedia de continuar dormindo.

Sentou-se na cama e encostou o corpo à parede, fechou os olhos e em questões de segundos as imagens tão conhecidas por si invadiriam sua mente como um filme, mas Luhan não o protagonizava. Era estranho. Como ele poderia vivenciar o momento mesmo sem nunca ter estado realmente lá?  

Mas Luhan sentiu. Ele sentiu o vento frio da madrugada tocando seu rosto enquanto o carro corria acelerado pela pista vazia, os faróis do carro sendo a única iluminação. Ele ouviu os gritos, uns apavorados, outros cheios de adrenalina vindos das adolescentes que também estavam no carro. Ele conseguiu sentir a presença de um adulto, este dirigia; de um jovem garoto de dezenove anos no banco carona e mais três garotas entre quinze e dezessete anos no banco de trás.

Ele conseguiu ver o sorriso perverso no rosto do motorista e a sensação de seu coração acelerar quando desviou da pista e começou a dirigir descontrolado pela floresta. Os gritos continuavam, em puro êxtase. E o garoto sentado à frente, seu rosto estava calmo, como se estivesse aproveitando o som das ondas e a brisa do mar. Ele possuía os olhos fechados. O jovem sabia o que aconteceria a seguir e ele ansiava por isso.  

Luhan gritava. Não! Não! Não! Mas ninguém era capaz de lhe ouvir, sua súplica era silenciada pelos gritos agudos das adolescentes. Ninguém além do motorista e do garoto estranho parecia saber o que de fato ocorreria. Ele não queria ver, mas parecia que seus olhos estavam sendo abertos por uma força invisível. Ele precisava ver.

Uma árvore grande e velha estava no caminho do carro. O motorista acelerou ainda mais. Os gritos aumentaram. E o coração de Luhan batia forte. Ele não pôde fazer nada, mas observar o momento em que o carro foi de encontro à árvore e o corpo do jovem rapaz atravessou o para-brisa. Mas neste momento, o rapaz sorriu.

E Luhan sentiu que só havia ele e mais uma alma viva em meio aos destroços do carro.

Luhan abriu os olhos com rapidez, sua visão foi tomada por uma luz branca, o que o cegou momentaneamente. Ele estava ofegante, suando frio e sua coluna doía como nunca. Acabou dormindo sentado, novamente.

Tentou consertar sua posição, fazendo com que sua coluna doesse com mais intensidade. Na ponta de seus dedos, se espalhava uma sensação de dormência, mas logo foi esquecida quando uma dor intensa ressoou em sua cabeça e algo escorreu por suas têmporas. Tateando, Luhan sentiu algo úmido e pensou que fosse suor, mas seus dedos estavam sujos de um líquido vermelho.

Desesperado, correu até o banheiro de seu pequeno apartamento, mas quando viu seu próprio reflexo no espelho, não havia nada. A dormência e a dor de cabeça havia cessado e o sangue dissipou-se.

Luhan sacudiu a cabeça algumas vezes e lavou o rosto com a água fria da pia. É. Ele estava ficando louco. 

Este mesmo pesadelo, não poderia chamar de sonho em hipótese alguma, vinha o perseguindo há algumas semanas. 
antigo para caralho, mas amo a ideia dessa história, mas execução não estava tão legal assim e eu nem terminei. 

sussurro

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Eu estava sozinha, presa em um quarto de hotel sem grandes opções de entretenimento. Um cenário solitário e até um pouco depressivo.

O relógio do celular indicava que já havia passado da meia noite e mesmo assim eu ainda não havia conseguido dormir. Parece que até por brincadeira os fantasmas da minha vida, do meu passado escolheram este dia para me assombrar.

Quando fecho os olhos vejo a imagem da minha melhor amiga, uma anoréxica morta. Por ter diminuído a luz, sombras se projetavam na parede atrás de mim e era iguaizinhas ao Carter, meu padrasto maníaco. O barulho da chuva indo ao encontro do asfalto me lembrava duma suave melodia cantada por meu pai, ele cantava esta musica quando estava com raiva e perdia o controle. Totalmente doentio.

E o pior de tudo? Eu não tinha sono algum, mas não poderia ficar acordada. O que me assustava mais? Minha amiga morta, que coincidentemente morrera por minha culpa. Meu pai também morto em um acidente de carro... chovia forte no dia, exatamente como hoje. Ou o meu padrasto tarado, satânico que, infelizmente continua vivo?  

Se o seu palpite é “o monstro que os três se transformam para me apavorar”. Você está corretíssimo!
Escolhi ficar acordada, ereta, encarando o celular e mexendo nele aleatoriamente. Não sei até que horas continuei assim, mas me recordo de uma luz fraca invadir o quarto por meio das brechas da janela.

... Garota é encontrada morta em casa, sozinha.
... Ninguém precisa ficar sabendo, querida.
... O papai morreu, Morgana, ele não está mais aqui. Nunca voltará, jamais.

§

Fui acordada com fortes batidas na porta e uma voz grave dizendo:

— Acorda Morgana! ACORDA! — reconheci imediatamente o dono da voz. Bob, dono do motel, gordo e barbudo. Não tem esposa, filhos ou uma família. Seus gases fedem muito e faz o melhor sanduíche de pasta de amendoim do mundo.

Levantei meio mal humorada, afinal estou morrendo de sono e gritei um ‘ok’ para o Bob me deixar em paz.

Tomei banho e fiz tudo o que tinha que fazer, depois desci para a recepção do motel. Mais um dia entediante da minha vida, mais um dia desperdiçando a minha existência.

Como minha vida se transformou nisso? Eu poderia contar, mas é doloroso demais para mim. Deixe-me fumar um pouco que tudo fluirá naturalmente.

Quando papai morreu eu tinha dez anos e observei a cada dia que passava a mamãe enlouquecer, beber e se drogar. Um mês depois ela trouxe um estranho para casa e eu fiquei com medo dele. Eles se casaram pouco tempo depois. Carter, seu nome real, era, na verdade, um homem preguiçoso e vagabundo. Ele nos explorava, mas ela não ligava para isso. Só estava concentrada em fazê-lo feliz, nas ardentes noites de sexo e nos orgasmos. E como eu fiquei? Fui abandonada! Tive que me ‘criar’ sozinha e ainda por cima aguentar os gemidos e a barulheira a noite inteira.

Sim... e isso foi só o começo.

Eu sempre notei um comportamento estranho do Carter comigo. Em qualquer oportunidade ele fazia questão de me tocar, mostrar seu membro para mim e era nojento... completamente. Mas eu não era a única que notava.

Claro que não, ela sabia. Sabia de tudo, mas fingia ser cega.

Estava distraída pegando uma flor em uma árvore quando ele chegou atrás de mim e sussurrou "não grita", meu coração gelou, eu havia notado sua presença antes, mas não pensei em nada. Ele segurou minha mão e começou a andar devagar me puxando para o jardim onde tinha uns arbustos. Quando o susto maior passou e voltei a pensar novamente fiquei imaginando como sairia da situação, decidi que iria lutar, virei e dei uma cotovelada nele, ele me segurou e deu um soco no meu rosto. Eu chorava e ele me arrastava mais rápido até chegarmos aos arbustos, ele segurou minha cabeça no chão e me deixou de quatro, enquanto me estuprava falava coisas nojentas e às vezes me batia. Depois que 'terminou' mandou eu não me mexer e sussurrou no meu ouvido “Ninguém precisa ficar sabendo, querida”.

Fiquei deitada na terra chorando por um tempo que parecia uma eternidade, esperando que tudo aquilo não tivesse sido real, esperando que não passasse de um pesadelo. Eu tinha treze anos, e nesse dia perdi minha virgindade e minha inocência.

Eu nunca contei a ninguém sobre isso. Desde então os homens passaram a me assustar diariamente, mantive uma longa distancia de Carter. Procurava me ocupar e passar menos tempo em casa vivia indo para casa das gêmeas por conta do medo. Ele nunca mais me estuprou, não completamente. Continuava me pedindo para fazer um boquete nele, ou me chamava para darmos uns amassos no quarto dele. Até que eu fiz 16 anos e não aguentei mais a situação, liguei para policia e fiz um escândalo com a minha mãe, porém ele me fez desistir de dar a queixa. Mamãe não acreditou em mim, por isso eu fui embora. E agora estou morando neste quarto de motel, assustada demais para seguir em frente, envergonhada demais para voltar atrás.

Eu nunca fiz sexo com garoto algum. Apenas o toque é capaz de me lembrar do abuso que sofri anos atrás. Não tenho medo do Bob, de alguma forma consegui confiar nele, e além do mais ele é gay. Ele me protege das ameaças e me proíbe de usar maconha.

Fantasma número dois. Pandora e Perrie, as gêmeas, e eu sempre fomos melhores amigas. Conforme fomos crescendo cada uma mudou seu comportamento. Eu estava estranha, não falava mais com ninguém, não saia para as festas. Pandora era estudiosa e por isso passava mais tempo trancada em seu quarto, mas Perrie era obcecada, obcecada por tudo, o corpo, garotos, festas, sexo e principalmente o corpo. Todo dia ela vinha com uma dieta maluca encontrada na internet ou parava de comer completamente; seu problema foi se agravando e agravando. Um dia ela havia armado, chamou uns garotos da escola e inventou uma festa na piscina só para garotas... Quando realmente queria fazer uma orgia na piscina. Quando vi aqueles garotos querendo me tocar e fazer coisas comigo entrei em pânico e briguei com ela. Ficamos sem nos falar. Seus pais viajaram pro fim de semana, as duas ficaram em casa sozinhas, mas Pandora foi estudar na casa de uma amiga. Perrie ficou sozinha e não estava bem. Me mandou mil mensagens chorando e pedindo desculpas, ainda com raiva ignorei. Na segunda feira recebi a mensagem, Perrie estava morta. Ela passou o fim de semana inteiro vomitando e comendo o que causou o rompimento do esôfago, ela morreu e eu poderia ter a salvado. Parei de frequentar a escola no meio do semestre e parei de falar com a Pandora. É difícil ser amiga de alguém quando ela tem o mesmo rosto de uma pessoa morta.

Enfim, depois de passar por tudo isso, desesperada eu recorri ao primeiro anuncio de trabalho que vi; recepcionista de um motel. Bob não ligou por eu ser menor de idade, ele também estava desesperado. Quando contei minha situação ele me acolheu. Lembro também que ao terminar de falar ele me disse:
 
— Você já é a segunda aqui que me aparece com essa historia.

Estou aqui faz dois meses e até hoje não sei de quem ele estava falando.
isso é antigo para caralho, tõ falando lá para 2015 quando eu achava que essa historia seria revolucionária e hoje vejo que ela é só um clichêzão, mas tamo aí :) 

o homem chamado Jorge


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O HOMEM CHAMADO JORGE era um senhor grisalho e barbudo que sempre olhava Moara de cara feia quando ela ia ao café. Toda vez que a porta de vidro se abria e uma rajada de ar quente invadia o estabelecimento, o homem chamado Jorge direcionava o olhar para Moara e arqueava uma sobrancelha.
Na primeira vez que isso aconteceu, Moara sentiu-se intimidada. Ela congelou na porta, a mão hesitante sobre a maçaneta. Contudo, o homem chamado Jorge apenas suspirou, claramente desapontado e voltou a varrer o chão do pequeno café.
Aquele café não era novo, pelo contrário, localizava-se no primeiro andar de um antigo edifício residencial de 4 andares. Perdoem-me pelo exagero, mas o local estava em ruínas. As paredes, que um dia foram pintadas de verde, encontravam-se descascadas e desbotadas, marcadas por pichações aleatórias. As janelas, duas em cada andar, eram compridas e protegidas por grades brancas, também degradadas. A única coisa que denunciava que o local não estava totalmente abandonado era uma placa improvisada, pregada a parede junto à porta, onde lia-se “Café da Tia”.
Quando se deparou com o lugar pela primeira vez, Moara pensou duas vezes antes de entrar, com medo do prédio ser abandonado. No entanto, ela não tinha dinheiro e realmente precisava comer, então arriscou, respirou fundo e entrou.
Assim que abriu a porta, o aroma de café e bolo caseiro infiltraram-se em suas narinas e seu estômago roncou. O momento foi quebrado quando Moara notou que diante dela tinha um homem, duas vezes o seu tamanho, segurando uma vassoura e olhando fixamente para ela. Um crachá estava preso a sua blusa laranja, Moara leu: Jorge. Não sabia ao certo o que a expressão do homem chamado Jorge significava, mas ela só relaxou quando Jorge a ignorou e continuou a varrer o chão.
Os instintos de Moara disseram-lhe corra. Novamente, ela lembrou a si mesma: você é pobre e está com fome, então senta logo na merda desse café. E assim ela o fez e o faz todos os dias dos últimos 2 meses.
Naquele dia, o homem chamado Jorge estava atrás do balcão, enchendo um recipiente com pacotinhos de açúcar. Ele não parecia estar interessado no que acontecia ao redor. Não havia muitos clientes. Moara e uma senhora idosa eram as únicas ali. Moara estava sentando em sua mesa favorita, de frente à janela, batucando impacientemente o teclado do notebook e a senhora estava duas mesas atrás dela, bebendo café preto e lendo um jornal, mas Moara desconfiava que ela fosse apenas uma moradora do prédio sem ter muito o que fazer.
Para falar a verdade, desde que Moara passara a frequentar o café da Tia, ela nunca vira ninguém além da senhora idosa e outro moço dono de um sorriso simpático no lugar. Talvez isso explicasse o tédio constante do homem chamado Jorge.
Ela pegou sua agenda de dentro da mochila e escreveu com letra apressadas uma nota, preciso trazer meus amigos aqui. Guardou a agenda e voltou a batucar o teclado do notebook.
Vou admitir, naquele dia Moara estava especialmente nervosa.
É hoje! É hoje! É hoje!
Ele repetia incansavelmente, bebericava seu cappuccino e voltava a repetir. Na sua cabeça, as palavras já não faziam sentido e se perdiam na ponta de sua língua.
Merda, é realmente hoje! — ele disse entre um suspiro longo. Esfregou as mãos nas coxas e depois nos cabelos, mas nada conseguia acalmar sua ansiedade.
Por duas longas e torturantes semanas Moara rezou, desejou e fez de tudo para que este dia não chegasse, mas se tinha uma coisa que ela ainda não podia fazer era controlar o tempo, infelizmente. Agora, cá estava ela, se escondendo em um café no fim do mundo, como a pessoa madura que era.
O lugar não era só um café. Era o seu porto seguro, era o mais próximo a um lar. Ele lhe trazia um conforto inexplicável.
Suas mãos estavam trêmulas quando ela guardou suas coisas na mochila, seus passos eram lentos conforme se dirigia ao balcão. Sua aproximação despertou o homem chamado Jorge de sua realidade singular, ele largou os pacotes restantes de açúcar e olhou para Moara, o mesmo olhar questionador de sempre.
— Você sabe quanto ficou. — murmurou seco, olhando por cima dos ombros de Moara. Só por curiosidade (ou talvez para perder tempo), Moara virou-se para a direção que o homem chamado Jorge olhava. Era a senhora idosa. Ela dobrava o jornal lentamente como se possuísse todo o tempo do mundo em seus dedos.
Moara gostaria de ter esse privilégio. 
O homem chamado Jorge pigarreou e Moara sentiu-se envergonhada. Virou o corpo de volta e retirou o dinheiro da carteira, entregando-o à Jorge. Por um momento, ela permaneceu parada, encarando o homem chamado Jorge como se seu rosto velho e barbudo fosse a obra de arte mais fascinante que já vira. Sair dali não precisava ser uma opção.
O homem chamado Jorge arqueou a sobrancelha direita, encarou Moara de cima a baixo e suspirou. O mesmo suspiro decepcionado. Isso fez o corpo de Moara tremer. A expressão do homem chamado Jorge relaxou e ele deu as costas, indo pegar a vassoura. Moara continuou a olhar o espaço vazio.
A porta fez um barulho. Institivamente, Moara virou-se para ela. A senhora se fora, mas o jornal estava sobre a mesa. Ele deveria ir também.
O homem chamado Jorge varria o chão, estava de volta ao seu mundinho.
Moara olhou a porta de vidro, a rua estava vazia. Nenhum sinal de movimentação.
— Muito bem. — Moara suspirou e finalmente suas pernas responderam ao comando, indo em direção a saída.
— Boa sorte, criança. — as palavras curtas do homem chamado Jorge a fizeram congelar. Ele parou e um sorriso formou-se em seus lábios. Moara ficou sem entender por alguns segundos. — Boa sorte com a vida.
Moara sorriu e o deu as costas, a sua última ação sendo um último suspiro longo. 
Está na hora de crescer.

mais um da série trabalhos inacabados, levemente inspirado no personagem "O homem chamado Jack" do "O livro do cemitério"  :)

para sempre.

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Esperei. Talvez 10, 20 minutos tenham se passado. Não sei. Não posso dizer com certeza. Continuei esperando, olhando para os lados, esperando. Não só o ponto de ônibus, como a rua, estava deserto. Continuei esperando. Tentando ignorar a dor costumeira em meu estômago. Como se chamava isso? Acho que é fome. Sim, fome. Não posso afirmar com certeza, mas eu acho que é isso. Não sei, estou confuso e com sono.
Sentei-me na ponta, mas todos os bancos estavam vazios.
“Ele vai chegar”
Talvez seja a única coisa que tenha certeza, não só hoje, mas na vida. Ele sempre vinha. Esperei mais um pouco e, nesse meio tempo, carros começaram a circular pela rodovia antes deserta. Não estava mais sozinho, mas ainda assim, estava. Eles faziam barulho.
O ponto de ônibus começou a se encher, alguns idosos e alguns estudantes vestidos com seus uniformes. Ninguém se aproximou de mim, eu era um estranho e fedia.
Mais algum tempo se passou, eu não sei quanto, mas sei que passou, pois o ponto encheu-se e esvaziou-se e, mesmo assim, ninguém olhou para mim. Talvez eu devesse tirar um cochilo, afinal, eu acordei cedo para chegar até aqui. Quando ele chegasse, iria me acordar. Tenho certeza.
Dormi. Talvez 20, 30 minutos tenham se passado. Não havia mais estudantes no ponto.
“Será que ele não vem?”
Não. Ele sempre vinha. Irei esperar mais um pouco.
Esperei. Observei, nesse meio tempo, o céu mudar e o calor se intensificar. Meu estômago ainda doía.
Resolvi desistir. Hoje ele não viria.

Demorei um pouco para chegar em casa. Era longe do ponto onde eu ia toda manhã, era uma longa caminhada. Eu sempre fico com medo de deixar Zitao sozinho, mesmo que ele tenha 12 anos. Era o meu único parente, sem ele eu estaria totalmente solitário e abandonado. Não gosto de ficar sozinho.
Mas minha maior decepção é que eu não traria nada para Zitao hoje já que ele não veio. Por que ele não veio? Gostaria de saber responder.
Dei cinco batidas na porta e esperei. Eu disse a Zitao para nunca abrir a porta para estranhos, mas sempre que ele ouvisse cinco batidas seguidas, ele poderia abrir. Seria eu.
Zitao apareceu à porta, com um sorriso e me perguntou algo que partiu meu coração.
— O que trouxe hoje? Estou com fome, hyung.
Seus olhos eram confusos quando ele notou minhas mãos vazias. Eu não trouxe nada.
— Ele não veio hoje, Tao. Sinto muito, mas o hyung dará um jeito. Não te deixarei com fome. — falei com incerteza. Eu não tinha ideia do que faria para nos alimentar.
Zitao não tinha escola hoje, então ele comeria em casa. A merenda do colégio era um alivio para mim, mesmo que não fosse o suficiente para um guloso garoto de 12 anos. Mas Tao conhece nossas limitações.
— Está tudo bem, hyung! Nem estou com tanta fome assim... — eu sei que ele só falou isso para me confortar, mas esses momentos só reforçavam o quanto que eu me sentia inútil. Eu era seu responsável e deveria poder, pelo menos, colocar comida na mesa. Mas eu fui demitido três meses atrás. Trabalhava em um mercado de rua e, por algum motivo não dito, eles me botaram para fora.
Eu era o melhor funcionário.
Ainda estava do lado de fora, por isso, pus a mão no ombro de Tao para que nós entrássemos. Fechei a porta.
— Deixe disso, eu darei meu jeito, sim?
Tao fez que sim com a cabeça, a fome falava mais alto do que nós dois.
Após isso, ele enfiou-se dentro do quarto. Provavelmente assistiria televisão.
Zitao era meu primo por parte de p- por parte do homem que me pôs no mundo. Seus pais morreram em um acidente e ele veio morar comigo e minha família quando eu tinha nove e ele três anos. Nossas famílias vieram da China há muito tempo.
Minha família nunca fora do tipo amorosa e unida. Eles nunca gostaram de mim e nunca me desejaram, eu fui um completo erro para eles e a chegada de Tao em nossa casa só piorou tudo. Até que quando eu tinha catorze anos, eles me descartaram de vez junto com Tao. Eu não fui à escola desde então, mas sempre lutei para Zitao fosse, e ele dava resultados, era muito inteligente. Tenho orgulho.
Sem o meu segundo grau completo, não posso trabalhar de verdade. Vivo em trabalhos informais que não geram muito dinheiro e sempre falta. Não tomo muitos banhos para evitar gastar água. Moramos em uma casa cedida por um vizinho, acho que ele teve pena de nós, mas eu agradeço muito a ele. Só temos uma televisão; uma geladeira e fogão velhos; um sofá duro; e mais algumas outras coisas básicas em nossa pequena casa; que não passa de três cômodos. Temos um quarto – que eu divido com Zitao, uma sala/cozinha e um banheiro. E eu agradeço muito, por um tempo nem isso nós tínhamos.
Desde que fui despedido, venho lutando a qualquer custo para conseguir dar o que comer a Zitao, nem me preocupo comigo. Eu sei que posso esperar, mas ele ainda é uma criança. Meu desespero às vezes me leva a cometer alguns furtos, nada graves, os quais eu não me orgulho. Ou eu vou me humilhar e saio na rua pedindo algum dinheiro. Não é como se me dessem, eu conseguia muito pouco, mas eu continuava me virando.
Em uma dessas manhãs de humilhação, eu o conheci. Vestindo seu uniforme de ensino médio e um rosto emburrado. Me aproximei e lhe pedi dinheiro. Ele não pareceu se compadecer com minha história no começo, mas então ele falou:
— Qual o seu nome? — sua voz era embolada.
— Luhan. — respondi tímido. Eles nunca falavam comigo.
— Sehun. — se apresentou e estendeu sua mão, a toquei incerto e o observei pegar algo em sua mochila. Primeiro, ele tirou uma sacola e depois algumas cédulas de sua carteira. Me entregou tudo depois. — Luhan, apareça aqui amanhã, ok? Esse é o meu ônibus. — apontou para o ônibus que se aproximou. — Eu tenho que ir agora.
Então Sehun entrou no ônibus, antes mesmo de eu raciocinar ou de lhe dizer obrigado. Fui para casa feliz e guardei o lanche para quando Zitao chegasse. Comi um pouco para saciar minha fome e guardei o dinheiro para depois. Eu não era burro.
Sehun e eu nos encontramos toda manhã quando ele vai para o colégio nesse mesmo ponto. Ele traz comida, roupas, dinheiro e até me ajuda com empregos. Ele é rico e eu não entendo o porquê de ele estar toda manhã nesse ponto de ônibus público.
Mas Sehun é um mistério. Diferente dos mocinhos ricos que assisto nos dramas. Ele tem um ótimo coração e eu sou muito grato a ele, apesar de não ter certeza sobre qual o motivo dele me ajudar tanto. Eu nunca perguntei, mas essa era só mais uma de tantas coisas as quais eu sou ignorante.
De qualquer forma, Sehun não viera hoje e, apesar de que eu nunca saberei o motivo, continuo me perguntando porquê. Ele nunca falta, nunca mesmo. Não consigo deixar de esconder minha decepção. Não só por toda a ajuda, mas também pela falta que ele faz. Sehun é meu único amigo. Tirando Tao, eu estou sozinho.
Seria um longo sábado e eu teria que me virar, senão seria mais um dia em que faltaria comida em nossa mesa. Mais um dia em que eu e Tao seriamos miseráveis.
Hoje ele não viera, mas eu tinha esperanças sobre o dia de amanhã.

Escrito em 2016, acredito que a inspiração só tenha me consumido e saiu isso ai.