☼ vida diária: o reflexo de quem eu não sou


Eu me sinto vazia, desse jeito mesmo que você está pensando. Sem conteúdo e insípida. Só sei repetir discursos cujos significados muitas vezes desconheço somente por ser o que as pessoas querem ouvir: a opinião revolucionária.

Às vezes, eu não tenho ideia do que está ocorrendo a minha volta, mas eu reproduzo o discurso que eles querem ouvir.

Quem eu era há um ano? Com certeza uma pessoa com atitude e opiniões próprias. Onde está essa Luísa? Pois eu não a vejo mais.

Hoje eu cansei.

Antes eu tinha sede de saber, procurava me informar, ler. Hoje, se as pessoas com quem eu ando pensam x, então eu pensarei o mesmo. Tenho saudades da menina que colocava batom vermelho nos lábios e saia gritando discursos feministas e empoderados na sala de aula. Hoje, eu simplesmente dou risada (forçada, só para constar) e digo "é né". Nem se parece com a pessoa que há um ano exclamava com orgulho: "sim, eu sou puta".

Muitas mudanças positivas ocorreram neste ano que se passou, isso é um fato que nunca negarei, mas muitos defeitos se apossaram de mim também e eles estão me impedindo de crescer.

Eu sempre fui uma aluna preguiçosa e desorganizada. Mas, pelo menos, eu buscava me informar depois, eu corria atrás e fazia alguma coisa. Hoje, eu não faço nada. Literalmente nada, nem ao menos prestar atenção nas aulas eu consigo. Meu boletim está uma vergonha.

Como eu me tornei o tipo de pessoa que não consegue se importar com nada?

Eu pergunto a mim mesma: será que estou com algum problema? É o colégio? É a vida? É a família?
Quem é essa garota que vive trancada no quarto e não consegue conversar com mais ninguém? Que prefere perder amizades e se afastar a ter que abrir a boca para puxar um assunto?

Quem é essa garota que vejo no espelho agora? Ela sou eu de cabelo mais curto e crespo, com mais espinhas e olheiras profundas. Além dessas mudanças, eu continuo a mesma. Meu peito não cresceu mais, continuo roendo minhas unhas, continuo tendo cólica nos primeiros dias da menstruação. Eu ainda sou eu, mas isso o que enxergo não se parece comigo.

Eu queria poder apertar o botão de reiniciar, volta lá no tempo e fazer as coisas diferentes. Eu queria poder evitar perder a essência do meu ser, pois eu não estou feliz com a minha vida no momento. Não me sinto feliz de machucar tanto os outros quanto a mim mesma. Eu preciso desesperadamente começar a me importar com alguma ou então só poderei temer o dia em que esse desânimo acabará com a minha vida já que nada me importa mesmo.


este é o primeiro de uma série de textos que retratarão como eu me sinto no dia a dia.