Recentemente eu fiquei obcecada por uma novela da Globo e comecei a assisti-la depois que ela saiu do ar. Isso mesmo, achei um site pirata dos bons, sem vírus nem nada e com todos os capítulos disponíveis lá. A novela me chamou atenção por ter um ator talentosíssimo daqui de Salvador (e lindo também) e por falar sobre livros. A novela é bom sucesso e sim, eu passei as últimas semanas maratonando uma novela da Globo como se fosse série, mas é isso o que acontece quando você é uma jovem desocupada cuja única função social é estudar para o Enem e reclamar que precisa de um emprego.
A relação com os livros é muito forte na novela e ela me fez revisitar a época em que eu também era apaixonada por livros. Até que em uma cena, a professora Francisca indica a Waguinho, um jovem em reabilitação por conta das drogas, o livro “Capitães de Areia”, descrevendo que é a história de jovens pobres, em sua maioria negros, vivendo em Salvador. Quando eu ouvi isso eu pensei: “PORRA! Esse livro não é só um clássico da literatura brasileira, é também um clássico sobre a minha cidade!” e eu me senti na obrigação de ler (até porque né...) e isso me despertou uma vontade não só de ler Capitães de areia, como ler outros clássicos da literatura tanto nacional quanto mundial e assim eu passei uma madrugada inteira baixando um milhão de pdfs (♥).
Eu comecei a ler no sábado passado e instantemente me apaixonei. Senti certa estranheza por causa da linguagem, mas a escrita de Jorge Amado é tão envolvente que a leitura fluiu que eu nem senti. Eu me senti muito feliz por estar lendo uma história que se ambientava aqui em Salvador e até mesmo no bairro onde eu moro porque eu cresci lendo coisas lá dos EUA e afins ou, tenho orgulho de afirmar que eu nunca suportei essas escritoras, os livros da Paula Pimenta e Thalita Rebouças sobre meninas brancas de classe média que moram no eixo RIO-SP. Foi um sentimento de representação muito grande e eu acho que li esse livro no momento certo, pois se tivesse lido quando mais nova, talvez eu não entendesse ou não gostasse.
Terminei de ler o livro na quarta-feira e só não terminei antes por pura preguiça e por medo de que muita desgraça acontecesse com esses meninos... Me apaixonei por cada um deles, apesar de algumas atitudes que embrulharam o meu estomago, como a cena do Pedro Bala estuprando a menina no areal. É incrível como a realidade desses meninos é ainda tão atual e parece longe de ser resolvida. Senti nojo, ódio, raiva do governo e de todos esses adultos que olhavam para essas crianças, apenas meninos que se achavam homens, como se eles fossem a escória daquela sociedade quando eles não passavam de pobres vítimas. A verdade é que essas autoridades, os ricos, e aqueles detentores do poder são os verdadeiros vermes e até hoje estão aqui sugando e fodendo a vida do pobre, do preto e do trabalhador enquanto nos julgam e nos olham como se fossem superiores. Enfim, senti MUITO ódio desse povo. Chorei o livro inteiro e quando terminei tive a sensação de que minha vida estava destruída. É uma leitura essencial, sabe? E que com toda certeza me marcou para caralho.
Existem muitas citações que me marcaram, mas eu seleciono duas que me atingiram e permaneceram na minha memória:
“... Bahia, que é a terra das mulheres valentes”.
“A liberdade é como o sol, o bem maior do mundo”.
Eu como mulher, preta e baiana tomo esse livro como uma lição: vou aproveitar a minha liberdade e nunca esquecer da minha força porque se eu estou onde estou hoje é porque muitos outros que vieram antes e se parecem comigo lutaram para isso.
Nota: ✫✫✫✫✫
*Isso não é uma resenha nem nada, sou só eu despejando os meus sentimentos no meu cantinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário