TW: Essa história contém descrição de automutilação e palavrões.
Segunda-feira, 7 pm.
— Porra.
Um resmungo é dito bem ao meu lado enquanto o garoto, dono de uma boca suja, observa com uma expressão de puro terror, o sangue que jorra diretamente de seu pulso e escorre pela pia, indo em direção ao ralo.
— Porra.
Ele repete, desesperadamente, tentando tatear a toalha de mãos, que normalmente localiza-se ao lado do espelho, para coloca-la sobre o sangramento, enquanto mantém os olhos fixos na água avermelhada – o vermelho de seu sangue. Quando seus dedos finalmente a encontram, ele a agarra e, usando a água fria para amenizar a dor, amarra a toalha sobre a ferida.
Ele suspira, tentando racionalizar a situação, enquanto uma dor aguda queima o seu pulso. Merda, ele pensa. Os olhos grudados no sangramento que não parece querer cessar, todas as suas tentativas seguiam sem sucesso notável.
Eu confesso que tenho um pouco de culpa nisso, talvez a minha presença somada com a impulsividade de Nick, tenha resultado em tal atitude. Porém, reconheço que não fui eu quem pegou a lâmina e a levou até a sua carne. Sobre isso, não posso me considerar culpado, apenas assistir a situação se desenrolar.
Ao que Nick finalmente se acostuma com a dor, ele se prontifica a procurar pelo kit de primeiros socorros, que ele sabe que os Smith têm em todos os banheiros da casa, como lhe foi dito no primeiro dia em que pisou ali, há um mês. Com uma expressão perdida, ele busca a caixa dentro do armário, prateleira por prateleira, até que a encontra. Lá dentro tem: algodão, gazes, ataduras, álcool, soro, esparadrapo, pomadas, tesoura, band-aid e mais alguns materiais que todo tipo de kit de primeiros socorros possui, mas que não são relevantes para nossa história.
Para começar, Nick retira uma porção de algodão e o molha no soro, passando este, logo em seguida, sobre o corte. O contato repentino o faz contrair o corpo brevemente. Ele limpa o máximo que pode e, então, pega a gaze, atadura e o esparadrapo, pronto para fazer o curativo.
— Isso deve servir, por ora — diz, encarando o curativo improvisado. E, olhando para a bagunça que está a pia, e a dor em seu braço, diz, a plenos pulmões para seu reflexo no espelho: — Eu nunca farei isso de novo.
Com isso, ele pega a lâmina que deixou sobre a pia e tudo o que usou para o curativo, desprezando-os no lixo. Nick apaga as luzes e sai do banheiro. Sua nova família o espera para jantar.
Durante o jantar, eu estou ali. Sentado bem ao lado de Nick, fazendo-o companhia. Tudo é muito silencioso, o que me entedia um pouco, apesar de tais pensamentos serem incaracterísticos. O cheiro de comida caseira permeia o ar, enchendo a sala e dominando o incenso que a Sra. Smith acendeu um pouco antes de descermos.
Eu sei que Nick está com fome. Seu corpo se revira, o implorando por comida, mas ele, tentando ao máximo fugir do momento em que se encontra, sentado à mesa com a família feliz: papai, mamãe e seu filhinho; coloca pequenas porções de comida em seu prato e as engole, sem mastigar, impedindo seu paladar de apreciar o que, talvez, seja um delicioso bolo de carne.
Nick também reconhece os olhares apreensivos que estão sendo direcionados a si, principalmente ao curativo em seu pulso que, a essa altura, já começa a se avermelhar. Mas ele ignora tudo. Os olhares, a dor e a mim.
Me machuca muito ver o quanto que ele se esforça para se manter ignorante a minha presença. Nick e eu nos conhecemos há muito tempo. Eu fui o seu primeiro amigo, aquele que sempre esteve junto a ele, e como ele me trata hoje? Com pura indiferença. É difícil não levar para o pessoal, eu tento. Parece que essa é uma resposta natural, justificável a minha presença, por isso, eu entendo.
Os Smith não entendem.
Por mais que não compreendam Nick e suas ações, eles já não tentam mais conversar durante o jantar, pois sabem que é um plano idiota e que o garoto negará qualquer possibilidade de diálogo antes mesmo de abrirem a boca. Assim, nós temos essa atmosfera tensa, onde todos prendem as respirações e se recusam a saltá-la, pois temem que o ar acabe penetrando um território inimigo, perigoso.
Veja bem, o meu amigo Nick foi adotado temporariamente pelos Smith, há um mês. Ele já está acostumado a pular de casa em casa, passar dois meses com uma família, cinco com outra e quando uma pessoa se habitua a ser jogada de um lado ao outro, ela entende que é desprezível e que não pertence a lugar nenhum.
Nick não pertence à família Smith e nunca pertencerá. No momento em que entrou pela porta de madeira pela primeira vez, ele soube que deveria parar de se enganar. Ninguém o queria.
E ele sabia de muitas coisas. Essa era uma delas.
— Já terminei. Vou para o quarto. — diz ele, evitando pronunciar aquela pequena palavrinha que possui o poder de estragar tudo: meu.
Nada é lhe dito, mas ele entende que pode se retirar.
Nick sobe a escada a passos largos e eu estou bem ao seu lado.
Ele fecha a porta com força. O estímulo ressoante que fez ao fechá-la, ecoa através do quarto naturalmente tranquilo. Ele caminha até o colchão, empurrado perigosamente contra a parede, e observa seus pertences escassos empilhados sobre ele. Uma mochila repleta de papeis para aquarela, vários pincéis, tintas em frascos, um canivete, um caderno, e uma escova de dentes. É tudo o que ele possui propriedade para chamar de seu, verdadeiramente. A luz fragmentada que entra pelas janelas reflete em um tom alaranjado sobre os objetos. Nick, simplesmente por não ter o que fazer, põe tudo novamente dentro da mochila.
Faz muito tempo desde que ele tocara nesses materiais, céus, faz muito tempo desde que ele pensara em algo concreto, senão toda a bagunça que estava a sua mente. Nick não se considerava um artista, mas ele gostava da forma como a arte o fazia se sentir melhor consigo mesmo, e como as cores o faziam esquecer, por um breve momento, o mundo exterior. Um mundo que um dia já fora repleto de cores, mas que agora está desbotado.
A cama está vazia.
Ele rasteja sobre ela, apoiando-se com o cotovelo direito até a extremidade próxima à parede, e deita na cama. Não há nada que ele possa fazer agora, além de deixar que as minhas palavras encham sua mente com pensamentos habituais. Nick suspira, balançando a cabeça, ele tenta não me ouvir.
É um tolo.
Ele olha para o curativo em seu braço esquerdo, terá que renová-lo daqui a algumas horas. Nick realmente não sabe o que tinha em mente. Por que diabos causar mais dor, propositalmente, resolveria as coisas?
Ele leu sobre isso na internet uma vez, sobre como as pessoas se automutilavam para substituir a dor emocional pela física em uma tentativa de conforto ou qualquer merda dessa. Bem, sua mente ainda doí, juntamente com o seu corpo. Tudo o que ele fez foi dobrar a dor que já estava presente ali e ele se sente ainda pior.
De repente, um barulho em sua janela o desperta de seu transe. Por impulso, Nick vira-se para a fonte do barulho para saber o que, ou mais especificamente quem, o causou.
É aquela garota, de novo. Ela me dá nos nervos.
Nick levanta, hesitante, mas ela bate com força contra o vidro, como se dissesse “ei, abre logo essa porra!”, ele entende o recado e faz o que lhe foi pedido. Ela entra, intensa como uma tempestade.
— Qual é a porra do seu problema? — ela grita, furiosa.
Nick permanece atônito por uns segundos, incomodado com a mudança radical da atmosfera do ambiente. Ela o encara, olhos perscrutadores, tentando adivinhar o que ele tem a dizer, ela está pronta para a briga, mas tudo o que recebe é um frio “Selena”.
Ah, Selena.
— Você devia ir embora. — ele diz, recompondo-se, inexpressivo, e volta para a cama, como se ela não estivesse ali, como se ela não fosse ninguém. — Os Smith não vão gostar de ter você aqui, invadindo a casa deles e gritando como uma louca.
Desta vez, é Selena quem fica sem palavras, imóvel até para tentar se defender. Ela veio pronta para a briga, para gritar, mas não para isso, esse tipo de tratamento, como se ela não tivesse valor ou nem fosse digna do tempo de Nick.
Talvez ela não seja. Para mim, ela não é.
— Vá se foder! — ela diz, a voz fraca e tremida, incapaz de olha-lo nos olhos. Toda a sua atitude foi derrubada por simples palavras. — Vá- se foder... você... não pode simplesmente chegar aqui, e tentar ser meu amigo quando eu não dava a mínima para você e, a partir do momento em que eu fui honesta, me ignorar e me tratar dessa forma... Eu- — ela dá uma pausa e respira fundo — não vou deixar que mais um homem entre na minha vida e foda tudo, tá legal? Foda-se você e a merda dos seus problemas!
Nick ainda mantem a expressão vazia, enquanto olha a parede azul, tentando ignorar tudo o que lhe é dito. Ela espera por alguns segundos, lágrimas rolando sobre sua bochecha rosada, mas quando ele não a olha, Selena dá uma risada amarga e vira as costas, saindo pelo mesmo lugar por onde entrou.
Meus amigos, que espetáculo! Há muito tempo que não via uma cena tão dramática e gratificante como essa, porém, se tratando do meu amigo Nick, eu já deveria estar acostumado.
Muito tempo se passou até que ele finalmente saiu de sua inercia, movendo apenas a cabeça para encarar, sem nenhuma expressão, o lugar por onde Selena saiu.
A falta de expressão, para os ignorantes, poderia não significar nada, apenas que Nick era um cretino sem coração. Mas eu conheço o meu amigo muito bem e sei quais são as emoções escondidas por trás dessa fachada de garoto frio.
Nick sabia muitas coisas. Porém, o amor sempre lhe foi uma incógnita impossível de ser resolvida. Para ele, o amor só poderia significar uma dessas coisas: 1) uma mentira inventada pelo homem para alimentar seu próprio ego ou 2) um privilégio que ele, em seus breves dezessete anos de vida, nunca conheceu.
Um mês antes.
Os Smith eram a sétima família a acolhê-lo em 3 anos.
No momento em que Nick colocou os pés naquela casa, ele soube que não era bem-vindo ali. Talvez pelos sorrisos forçados da Sra. Smith ou os olhares de indiferença que o filho mais velho do casal, Benjamin, lhe lançava sempre que possível. De qualquer forma, Nick já estava acostumado com esse tipo de tratamento, então ele só faria o que sempre fez: ficar na dele e esperar que tudo acabe.
No primeiro dia, ele passou o dia inteiro trancado no quarto junto comigo, olhando para as paredes, tentando me ignorar, até que a Sra. Smith bateu em sua porta, com aquele maldito sorriso, e lhe disse que Benjamin se oferecera para apresenta-lo ao bairro. O primeiro pensamento de Nick foi negar e voltar à cama, mas ao vê-la parada à porta, cheia de expectativa, ele aceitou.
Um ponto a menos para mim.
Contudo, o “passeio” não foi tão ruim. Benjamin não era tão ruim, apenas mais um adolescente comum. Ele mostrou o bairro e algumas localizações importantes, apresentou os vizinhos e foi basicamente isso. Benjamin era muito falante, e irritante, sempre com um comentário a acrescentar sobre alguém ou uma história para contar. Confesso que as histórias, ao menos, me animaram, sempre fui muito curioso. Nick não pareceu prestar atenção em nada do que Benjamin disse, mas, ao voltarem para casa, ao por sol, Nick, de repente, sentiu-se interessado.
Tudo pela maldita garota.
No outro lado da rua, uma garota saia de um carro, usando óculos escuros e fones de ouvido. Quase não se via de seu rosto, além de sua pele branca e lábios vermelhos. Nick, provavelmente, está a encarando por tempo demais, que até Benjmin nota.
— Selena. — as palavras escapam dos lábios de Benjamin ironicamente. Ao ouvir o nome desconhecido, Nick se vira para encara-lo. — Interessado? Se você for lá agora, imediatamente ela fica de joelhos para te chupar. É o que putas fazem.
O problema é que Nick está interessado.
Dois pontos a menos para mim.
No momento em que Nick colocou os pés naquela casa, ele soube que não era bem-vindo ali. Talvez pelos sorrisos forçados da Sra. Smith ou os olhares de indiferença que o filho mais velho do casal, Benjamin, lhe lançava sempre que possível. De qualquer forma, Nick já estava acostumado com esse tipo de tratamento, então ele só faria o que sempre fez: ficar na dele e esperar que tudo acabe.
No primeiro dia, ele passou o dia inteiro trancado no quarto junto comigo, olhando para as paredes, tentando me ignorar, até que a Sra. Smith bateu em sua porta, com aquele maldito sorriso, e lhe disse que Benjamin se oferecera para apresenta-lo ao bairro. O primeiro pensamento de Nick foi negar e voltar à cama, mas ao vê-la parada à porta, cheia de expectativa, ele aceitou.
Um ponto a menos para mim.
Contudo, o “passeio” não foi tão ruim. Benjamin não era tão ruim, apenas mais um adolescente comum. Ele mostrou o bairro e algumas localizações importantes, apresentou os vizinhos e foi basicamente isso. Benjamin era muito falante, e irritante, sempre com um comentário a acrescentar sobre alguém ou uma história para contar. Confesso que as histórias, ao menos, me animaram, sempre fui muito curioso. Nick não pareceu prestar atenção em nada do que Benjamin disse, mas, ao voltarem para casa, ao por sol, Nick, de repente, sentiu-se interessado.
Tudo pela maldita garota.
No outro lado da rua, uma garota saia de um carro, usando óculos escuros e fones de ouvido. Quase não se via de seu rosto, além de sua pele branca e lábios vermelhos. Nick, provavelmente, está a encarando por tempo demais, que até Benjmin nota.
— Selena. — as palavras escapam dos lábios de Benjamin ironicamente. Ao ouvir o nome desconhecido, Nick se vira para encara-lo. — Interessado? Se você for lá agora, imediatamente ela fica de joelhos para te chupar. É o que putas fazem.
O problema é que Nick está interessado.
Dois pontos a menos para mim.
Duas semanas antes.
O primeiro dia no colégio é um inferno. Minha presença nunca esteve tão forte. Nick, por ser o único aluno a se transferir 2 meses após o início das aulas, é o centro das atenções.
O garoto novo, órfão, e que mora com o Benjamin.
As pessoas nunca o chamam por seu nome.
E, é claro, como em todo clichê adolescente, ela está aqui.
Selena.
Eles se veem de vez em quando. A este ponto, ela já reconheceu sua presença como o cara-que-está-morando-com-os-Smith, mas mantem-se indiferente, sem lhe dar importância.
Nicholas está ainda mais interessado. Ele logo descobre, porém, que Selena tem uma má reputação. Como lhe dissera Benjamin, certo dia, depois da aula:
— Todos do time de futebol já foderam ela. Selena é a maior vadia dessa cidade.
Nick tem suas dúvidas, duvidas estas que se dissipam completamente quando ele, escondido sob as arquibancadas do ginásio, vê Selena passar correndo, chorando.
O garoto novo, órfão, e que mora com o Benjamin.
As pessoas nunca o chamam por seu nome.
E, é claro, como em todo clichê adolescente, ela está aqui.
Selena.
Eles se veem de vez em quando. A este ponto, ela já reconheceu sua presença como o cara-que-está-morando-com-os-Smith, mas mantem-se indiferente, sem lhe dar importância.
Nicholas está ainda mais interessado. Ele logo descobre, porém, que Selena tem uma má reputação. Como lhe dissera Benjamin, certo dia, depois da aula:
— Todos do time de futebol já foderam ela. Selena é a maior vadia dessa cidade.
Nick tem suas dúvidas, duvidas estas que se dissipam completamente quando ele, escondido sob as arquibancadas do ginásio, vê Selena passar correndo, chorando.
Sábado, 8 pm.
Um fato engraçado: sempre que Nick via Selena pelo colégio, ela parecia estar na merda. Dessa vez, não foi diferente. Ele havia se arrastado da casa dos Smith até o colégio para “participar”, muitas aspas em participar, por favor, do festival de arte do semestre. Os alunos ditos “artistas” se reuniam pelas áreas do colégio para apresentar seus mais novos portfólios aos outros alunos, professores e pais. O festival também conta com comida, música e todas essas merdas que não são importantes para a história. E que eu não dou a mínima.
Desconfio que a única razão pela qual Nick saiu de casa foi para tentar me ignorar, de novo. Em todos esses anos de convivência ele nunca aprendeu que é justamente quando ele está cercado de pessoas que minha presença se torna mais viva e poderosa.
Pobre Nick.
Pois bem, conhecendo-o, eu sabia que ele tentaria se manter afastado de tudo o máximo que pudesse. Ele até cogitou tentar conversar com os alunos e discutir suas obras, mas resolveu só ficar quieto, observando.
É uma noite fria.
Quando ele já havia visto quase tudo, suas pernas começaram a andar no modo automático, ele já não tinha mais concentração. A única coisa que sabia é que não podia ir embora, não ainda.
Vagou solitário pelos corredores, muita coisa ainda lhe era desconhecida, até que chegou ao campo de futebol. Era imenso, o triplo do de sua escola anterior. Toda aquela imensidão o fazia se sentir pequeno demais. Mais do que o normal.
Ao longe, Nick pôde ver uma silhueta, a harmonia entre sombras e formas que ele conhece bem. Sentada no meio do campo de futebol, Selena tem a cabeça virada para baixo, com um cigarro em mãos.
Nick permanece parado por uns 5 minutos decidindo se deveria se aproximar ou não, se valia a pena falar com ela ou não, se perguntar se ela estava bem era algo aceitável ou não. Com uma respiração profunda, ele acalmou os nervos e caminhou até que a figura de Selena se torna nítida.
— Isso é uma boa ideia? — ele diz, tentando ao máximo não surtar e sair correndo da situação desconfortável que é a interação humana.
Instantaneamente, Selena levanta a cabeça, seu estado é deplorável.
— O que você quer?
— Ah, o cigarro... Os professores... — ele tenta recuperar a coragem para se explicar, mas ela já foi embora, em seu lugar, uma velha amiga faz o coração de Nick bater forte e seus ossos tremerem. — Desculpe...
Um silêncio se faz presente, mas não para mim. Eu ainda consigo ouvir os batimentos de Nick se tornarem cada vez mais altos e rápidos.
Selena dá uma tragada no cigarro, mas eventualmente, o apaga e com um dar de ombros, murmura:
— Você tem razão.
Nick respira, um pouco mais à vontade.
Está tudo bem. Ele tenta convencer a si mesmo.
Não, não está. Lhe digo o contrário.
— Me desculpe... Eu... vou embora- te deixar sozinha...
— Você é o garoto que está morando com os Smith, certo? — ela o interrompe, seu olhar perscrutador nunca deixa Nick em paz.
Ele já ouviu aquela pergunta um milhão de vezes e ela sempre causou certo nível de irritação. Eu tenho um nome, porra! Ele quer gritar, mas as palavras mantem-se presas em sua garganta. Todavia, quando Selena as disse, ele conformou-se. Nick já está acostumado a ser só mais um garoto, uma estatística. É a pura verdade.
— Você vive me encarando. — ela continua, ignorando sua falta de resposta. — Nas aulas, no colégio, até mesmo pela janela do seu quarto.
Ao ouvir este último, Nick arregala os olhos.
— Como?
— Eu sou muito observadora... — seus olhos pareciam devora-lo vivo. — O que você quer?
Sua pergunta pode parecer vaga, mas seu tom é sugestivo, eles sabem muito bem do que estão falando.
— Você tem o costume de achar que todo mundo te olha por que quer ficar com você?
— Eu não acho. É o que acontece.
Silêncio.
— Você quer ficar comigo?
— Não.
— O quê?
— Eu te acho bonita, gosto de seus traços. É isso.
Silêncio.
— É, eu não sei lidar com isso.
— O quê?
— Eu costumo usar minha boca para outras coisas.
— Então é verdade?
— O que você acha?
— Eu não sei. Não te conheço.
— É verdade... Fiz tudo o que falam. Mas eu não me importo.
— É?
Silêncio.
— Não.
— Se você diz...
Nick se senta ao lado dela.
Silêncio.
De repente, Selena se inclina para beija-lo, Nick recua, assustado.
— O que está fazendo?
— Eu sei que você quer isso. Todos os caras querem. Eu sei.
Ela tenta abrir as calças dele, e já estava quase conseguindo quando Nick se levanta.
— Pare com isso! — ele diz, alto o suficiente para ela congelar, olhos fixos nos seus por alguns segundos até irromperem em lágrimas.
— Desculpe. — ela diz, soluçando. — Desculpe...
E com outras dezenas de desculpas e mais alguns “está tudo bem”, eles passam a noite de sábado juntos.
3 pontos a menos para mim.
Um fato engraçado: sempre que Nick via Selena pelo colégio, ela parecia estar na merda. Dessa vez, não foi diferente. Ele havia se arrastado da casa dos Smith até o colégio para “participar”, muitas aspas em participar, por favor, do festival de arte do semestre. Os alunos ditos “artistas” se reuniam pelas áreas do colégio para apresentar seus mais novos portfólios aos outros alunos, professores e pais. O festival também conta com comida, música e todas essas merdas que não são importantes para a história. E que eu não dou a mínima.
Desconfio que a única razão pela qual Nick saiu de casa foi para tentar me ignorar, de novo. Em todos esses anos de convivência ele nunca aprendeu que é justamente quando ele está cercado de pessoas que minha presença se torna mais viva e poderosa.
Pobre Nick.
Pois bem, conhecendo-o, eu sabia que ele tentaria se manter afastado de tudo o máximo que pudesse. Ele até cogitou tentar conversar com os alunos e discutir suas obras, mas resolveu só ficar quieto, observando.
É uma noite fria.
Quando ele já havia visto quase tudo, suas pernas começaram a andar no modo automático, ele já não tinha mais concentração. A única coisa que sabia é que não podia ir embora, não ainda.
Vagou solitário pelos corredores, muita coisa ainda lhe era desconhecida, até que chegou ao campo de futebol. Era imenso, o triplo do de sua escola anterior. Toda aquela imensidão o fazia se sentir pequeno demais. Mais do que o normal.
Ao longe, Nick pôde ver uma silhueta, a harmonia entre sombras e formas que ele conhece bem. Sentada no meio do campo de futebol, Selena tem a cabeça virada para baixo, com um cigarro em mãos.
Nick permanece parado por uns 5 minutos decidindo se deveria se aproximar ou não, se valia a pena falar com ela ou não, se perguntar se ela estava bem era algo aceitável ou não. Com uma respiração profunda, ele acalmou os nervos e caminhou até que a figura de Selena se torna nítida.
— Isso é uma boa ideia? — ele diz, tentando ao máximo não surtar e sair correndo da situação desconfortável que é a interação humana.
Instantaneamente, Selena levanta a cabeça, seu estado é deplorável.
— O que você quer?
— Ah, o cigarro... Os professores... — ele tenta recuperar a coragem para se explicar, mas ela já foi embora, em seu lugar, uma velha amiga faz o coração de Nick bater forte e seus ossos tremerem. — Desculpe...
Um silêncio se faz presente, mas não para mim. Eu ainda consigo ouvir os batimentos de Nick se tornarem cada vez mais altos e rápidos.
Selena dá uma tragada no cigarro, mas eventualmente, o apaga e com um dar de ombros, murmura:
— Você tem razão.
Nick respira, um pouco mais à vontade.
Está tudo bem. Ele tenta convencer a si mesmo.
Não, não está. Lhe digo o contrário.
— Me desculpe... Eu... vou embora- te deixar sozinha...
— Você é o garoto que está morando com os Smith, certo? — ela o interrompe, seu olhar perscrutador nunca deixa Nick em paz.
Ele já ouviu aquela pergunta um milhão de vezes e ela sempre causou certo nível de irritação. Eu tenho um nome, porra! Ele quer gritar, mas as palavras mantem-se presas em sua garganta. Todavia, quando Selena as disse, ele conformou-se. Nick já está acostumado a ser só mais um garoto, uma estatística. É a pura verdade.
— Você vive me encarando. — ela continua, ignorando sua falta de resposta. — Nas aulas, no colégio, até mesmo pela janela do seu quarto.
Ao ouvir este último, Nick arregala os olhos.
— Como?
— Eu sou muito observadora... — seus olhos pareciam devora-lo vivo. — O que você quer?
Sua pergunta pode parecer vaga, mas seu tom é sugestivo, eles sabem muito bem do que estão falando.
— Você tem o costume de achar que todo mundo te olha por que quer ficar com você?
— Eu não acho. É o que acontece.
Silêncio.
— Você quer ficar comigo?
— Não.
— O quê?
— Eu te acho bonita, gosto de seus traços. É isso.
Silêncio.
— É, eu não sei lidar com isso.
— O quê?
— Eu costumo usar minha boca para outras coisas.
— Então é verdade?
— O que você acha?
— Eu não sei. Não te conheço.
— É verdade... Fiz tudo o que falam. Mas eu não me importo.
— É?
Silêncio.
— Não.
— Se você diz...
Nick se senta ao lado dela.
Silêncio.
De repente, Selena se inclina para beija-lo, Nick recua, assustado.
— O que está fazendo?
— Eu sei que você quer isso. Todos os caras querem. Eu sei.
Ela tenta abrir as calças dele, e já estava quase conseguindo quando Nick se levanta.
— Pare com isso! — ele diz, alto o suficiente para ela congelar, olhos fixos nos seus por alguns segundos até irromperem em lágrimas.
— Desculpe. — ela diz, soluçando. — Desculpe...
E com outras dezenas de desculpas e mais alguns “está tudo bem”, eles passam a noite de sábado juntos.
3 pontos a menos para mim.
Segunda-feira, 8 am.
No fim da primeira aula, Selena vai falar com Nick em seu armário.
— Oi. — ela diz, sorrindo.
— Oi...
— Eu só queria... agradecer, sabe? Você foi bem bacana comigo no sábado e eu... só queria agradecer... Eu ia mandar mensagem, mas achei que seria melhor falar pessoalmente...
— Ah... Ok...
— Então, com quem você vai almoçar? Podia vir para minha mesa, se quiser...
— Ah...
Todos os olhares estão sobre ele. Sussurros. Risadas.
— Você está bem?
Silêncio.
— Nick?
— Me desculpe... Eu tenho que ir.
E ele sai correndo, deixando-a parada em frente ao seu armário sem entender nada.
3 pontos a mais para mim.
Segunda-feira, 9 pm.
No fim da primeira aula, Selena vai falar com Nick em seu armário.
— Oi. — ela diz, sorrindo.
— Oi...
— Eu só queria... agradecer, sabe? Você foi bem bacana comigo no sábado e eu... só queria agradecer... Eu ia mandar mensagem, mas achei que seria melhor falar pessoalmente...
— Ah... Ok...
— Então, com quem você vai almoçar? Podia vir para minha mesa, se quiser...
— Ah...
Todos os olhares estão sobre ele. Sussurros. Risadas.
— Você está bem?
Silêncio.
— Nick?
— Me desculpe... Eu tenho que ir.
E ele sai correndo, deixando-a parada em frente ao seu armário sem entender nada.
3 pontos a mais para mim.
Segunda-feira, 9 pm.
Eu vou me arrepender disso, Nick pensa, respirando fundo.
Sim, você vai. Eu o digo. Por isso mesmo, você deveria voltar, agora, enquanto há tempo. Por um momento, eu sinto que quase consigo convencê-lo a desistir daquela ideia estupida e dar meia volta, mas então a porta é aberta. Uma senhora de meia idade – nada simpática – está trás dela.
— Ah... boa noite! Selena está? — ele pergunta a senhora e xinga-se logo em seguida. Que tipo de pergunta foi essa? Eu deveria me apresentar e explicar o porquê estou aqui e não simplesmente chegar na casa dos outros e exigir coisas... Eu não posso...
Mas a senhora simplesmente diz:
— Lá em cima.
E lhe dá as costas. Nick fica alguns minutos parado, incerto, mas entra.
O que você pensa que está fazendo? Não vê que isso é perda de tempo?
— Cala a boca! — ele murmura, o tom firme demais para o habitual.
Nick me mandou calar a boca?
Ele sobe as escadas, sem prestar atenção no ambiente ao seu redor. Ao chegar no primeiro andar, ele se depara com um corredor extenso, duas portas em cada parede. Só aí ele percebe que além do primeiro andar, ele não tem mais nenhuma informação sobre qual seria o quarto de Selena.
Parabéns, Nick. Você está indo muito bem.
Ele, mais uma vez, consegue ignorar o meu comentário e resolve tentar a sorte.
— Aquela última, talvez?
Sem nada a perder, ele segue até a última porta da parede esquerda. De frente a ela, sua coragem novamente tenta desaparecer, mas ele se agarra ao último resquício que tinha dentro dele e bate na porta. Seu primeiro toque é ignorado, ele tenta de novo e é recebido quase que imediatamente por um grito:
— Eu já falei que não vou jantar, vó-
Selena pausa quando abre a porta e vê Nick, sua face se endurece.
— O que você quer?
Nick está preparado, ele respira fundo e relembra de todo o monologo que criou em sua cabeça no momento em que Selena pulou a janela do quarto na casa dos Smith.
— Eu não sou muito bom em lidar com pessoas, está bem? Quando são desconhecidas, é mais fácil para mim, porque eu não tenho que ter nenhuma responsabilidade, sabe? Mas, a partir do momento em que elas tentam chegar perto, eu surto porque eu já não sei o que fazer. E foi o que aconteceu hoje... é isso.
Ok, isso saiu bem pior do que eu pensava.
Selena suspira.
— Jesus, eu só te convidei para almoçar... não foi um pedido de casamento...
— Eu sei, eu sei...
Selena suspira de novo, passando a mão no rosto, e as descansando na cintura.
— Entra, Nick.
— O quê?
— Eu preciso repetir?
Parecia ter se instalado algum tipo de paz momentânea no ambiente, e para não a perturbar, Nick aceita e entra no quarto, observando Selena fechar a porta. Ele acaba parado ao lado da porta, desconfortavelmente, seus olhos nunca deixam de seguir Selena que anda sem rumo, as mãos apoiadas na cintura.
— Sabe aquela conversa que tivemos? Depois que eu tentei te assediar? Ela me fez refletir muito e eu comecei a perceber algumas coisas. Por exemplo, eu cogitei que talvez nem todos os caras fossem uns babacas que só querem sexo só porque você é uma exceção, um cara legal. E conversar com você naquele dia me fez bem. Porque foi a primeira vez que fiz algo assim. Eu tenho muitos problemas na minha vida que me fodem para caralho e dá para notar que você também tem. Por isso eu pensei: talvez ele só precise de um amigo. E, sei lá, eu também não sei lidar com essas coisas, então tentei do meu jeito... Quando você me rejeitou, eu me senti da mesma forma que me sinto sempre que estou com um cara, ele me fode e então vai embora. Por um momento, eu tenho atenção, eu sinto os toques na minha pele e minutos depois, eu não tenho nada. Fico vazia. — pausa — Talvez tudo não precisasse ser tão triste se eu tivesse alguém para contar... Sei lá! Eu tô falando muito?
Ela para de andar de um lado ao outro e se aproxima da cama, jogando-se sobre ela e brincando com o babado de seu travesseiro. Envergonhada demais para falar algo, de novo.
— Você deve achar que eu sou intensa demais, né? A gente se conhece há um dia e eu já estou jogando as minhas merdas em você...
— Não, eu só... não pensei que você se sentisse assim...
— É. Ninguém pensa.
— Eu não sei o que dizer agora...
Selena deixa o travesseiro de lado, focando a atenção em Nick, e pergunta, de forma firme:
— O que você acha de mim?
— Eu já disse... Não te conheço, mas acho que você tem traços bonitos.
Isso é o suficiente?
— Não acha que sou uma puta louca?
— Acho que você é uma pessoa... tentando lidar com suas emoções como qualquer outra.
— É, talvez eu seja...
— Eu quero ser seu amigo, Selena. De verdade.
— Verdade?
— Sim.
Ela suspira, os dedos alcançando novamente o babado do travesseiro. Em sua presença, Selena sempre consegue se mostrar vulnerável, ao contrário da personagem que ela é no colégio.
— Talvez um dia eu possa te contar por que eu faço o que faço. Não hoje. Não amanhã. Um dia. Você é uma pessoa legal, Nick.
O coração de Nick bate forte em seu peito, mas não porque seus sentidos lhe alertam o perigo, Nick está à vontade. Selena era fascinante, mas ele não sabia bem o porquê. No momento em que a viu, ele quis estar perto dela, conhece-la. Para ele, Selena era muito mais do que uma menina com uma má reputação. Ela era uma pessoa, assim como ele.
Nick não era só mais um menino órfão, ele era Nicholas Jonas, uma pessoa real.
— Talvez um dia eu te conte a minha história também. — ele diz, o tom suave se aproximando da cama de Selena e sentando-se na borda.
— Você promete?
— Eu prometo.
Nick sabia muitas coisas. O amor não era uma delas, mas é o que dizem, certo? Ninguém nasce sabendo. Para se chegar até o Z, é preciso começar pelo A, e então passar por todas as outras letras do alfabeto. Talvez, ele ainda esteja aprendendo o B, mas para quem esteve durante toda a vida preso ao A, esse pequeno passo já é uma grande mudança.
Ele só precisa se permitir.
E, talvez, eles possam fazer essa coisa funcionar, o que quer que ela seja, pois nesse momento, nasceu algo muito maior do eu jamais serei, a promessa da esperança, que me marca, me queima e me sufoca.
10 pontos a menos para mim.
Eu acho que o meu tempo com Nick chegou ao fim.
Sim, você vai. Eu o digo. Por isso mesmo, você deveria voltar, agora, enquanto há tempo. Por um momento, eu sinto que quase consigo convencê-lo a desistir daquela ideia estupida e dar meia volta, mas então a porta é aberta. Uma senhora de meia idade – nada simpática – está trás dela.
— Ah... boa noite! Selena está? — ele pergunta a senhora e xinga-se logo em seguida. Que tipo de pergunta foi essa? Eu deveria me apresentar e explicar o porquê estou aqui e não simplesmente chegar na casa dos outros e exigir coisas... Eu não posso...
Mas a senhora simplesmente diz:
— Lá em cima.
E lhe dá as costas. Nick fica alguns minutos parado, incerto, mas entra.
O que você pensa que está fazendo? Não vê que isso é perda de tempo?
— Cala a boca! — ele murmura, o tom firme demais para o habitual.
Nick me mandou calar a boca?
Ele sobe as escadas, sem prestar atenção no ambiente ao seu redor. Ao chegar no primeiro andar, ele se depara com um corredor extenso, duas portas em cada parede. Só aí ele percebe que além do primeiro andar, ele não tem mais nenhuma informação sobre qual seria o quarto de Selena.
Parabéns, Nick. Você está indo muito bem.
Ele, mais uma vez, consegue ignorar o meu comentário e resolve tentar a sorte.
— Aquela última, talvez?
Sem nada a perder, ele segue até a última porta da parede esquerda. De frente a ela, sua coragem novamente tenta desaparecer, mas ele se agarra ao último resquício que tinha dentro dele e bate na porta. Seu primeiro toque é ignorado, ele tenta de novo e é recebido quase que imediatamente por um grito:
— Eu já falei que não vou jantar, vó-
Selena pausa quando abre a porta e vê Nick, sua face se endurece.
— O que você quer?
Nick está preparado, ele respira fundo e relembra de todo o monologo que criou em sua cabeça no momento em que Selena pulou a janela do quarto na casa dos Smith.
— Eu não sou muito bom em lidar com pessoas, está bem? Quando são desconhecidas, é mais fácil para mim, porque eu não tenho que ter nenhuma responsabilidade, sabe? Mas, a partir do momento em que elas tentam chegar perto, eu surto porque eu já não sei o que fazer. E foi o que aconteceu hoje... é isso.
Ok, isso saiu bem pior do que eu pensava.
Selena suspira.
— Jesus, eu só te convidei para almoçar... não foi um pedido de casamento...
— Eu sei, eu sei...
Selena suspira de novo, passando a mão no rosto, e as descansando na cintura.
— Entra, Nick.
— O quê?
— Eu preciso repetir?
Parecia ter se instalado algum tipo de paz momentânea no ambiente, e para não a perturbar, Nick aceita e entra no quarto, observando Selena fechar a porta. Ele acaba parado ao lado da porta, desconfortavelmente, seus olhos nunca deixam de seguir Selena que anda sem rumo, as mãos apoiadas na cintura.
— Sabe aquela conversa que tivemos? Depois que eu tentei te assediar? Ela me fez refletir muito e eu comecei a perceber algumas coisas. Por exemplo, eu cogitei que talvez nem todos os caras fossem uns babacas que só querem sexo só porque você é uma exceção, um cara legal. E conversar com você naquele dia me fez bem. Porque foi a primeira vez que fiz algo assim. Eu tenho muitos problemas na minha vida que me fodem para caralho e dá para notar que você também tem. Por isso eu pensei: talvez ele só precise de um amigo. E, sei lá, eu também não sei lidar com essas coisas, então tentei do meu jeito... Quando você me rejeitou, eu me senti da mesma forma que me sinto sempre que estou com um cara, ele me fode e então vai embora. Por um momento, eu tenho atenção, eu sinto os toques na minha pele e minutos depois, eu não tenho nada. Fico vazia. — pausa — Talvez tudo não precisasse ser tão triste se eu tivesse alguém para contar... Sei lá! Eu tô falando muito?
Ela para de andar de um lado ao outro e se aproxima da cama, jogando-se sobre ela e brincando com o babado de seu travesseiro. Envergonhada demais para falar algo, de novo.
— Você deve achar que eu sou intensa demais, né? A gente se conhece há um dia e eu já estou jogando as minhas merdas em você...
— Não, eu só... não pensei que você se sentisse assim...
— É. Ninguém pensa.
— Eu não sei o que dizer agora...
Selena deixa o travesseiro de lado, focando a atenção em Nick, e pergunta, de forma firme:
— O que você acha de mim?
— Eu já disse... Não te conheço, mas acho que você tem traços bonitos.
Isso é o suficiente?
— Não acha que sou uma puta louca?
— Acho que você é uma pessoa... tentando lidar com suas emoções como qualquer outra.
— É, talvez eu seja...
— Eu quero ser seu amigo, Selena. De verdade.
— Verdade?
— Sim.
Ela suspira, os dedos alcançando novamente o babado do travesseiro. Em sua presença, Selena sempre consegue se mostrar vulnerável, ao contrário da personagem que ela é no colégio.
— Talvez um dia eu possa te contar por que eu faço o que faço. Não hoje. Não amanhã. Um dia. Você é uma pessoa legal, Nick.
O coração de Nick bate forte em seu peito, mas não porque seus sentidos lhe alertam o perigo, Nick está à vontade. Selena era fascinante, mas ele não sabia bem o porquê. No momento em que a viu, ele quis estar perto dela, conhece-la. Para ele, Selena era muito mais do que uma menina com uma má reputação. Ela era uma pessoa, assim como ele.
Nick não era só mais um menino órfão, ele era Nicholas Jonas, uma pessoa real.
— Talvez um dia eu te conte a minha história também. — ele diz, o tom suave se aproximando da cama de Selena e sentando-se na borda.
— Você promete?
— Eu prometo.
Nick sabia muitas coisas. O amor não era uma delas, mas é o que dizem, certo? Ninguém nasce sabendo. Para se chegar até o Z, é preciso começar pelo A, e então passar por todas as outras letras do alfabeto. Talvez, ele ainda esteja aprendendo o B, mas para quem esteve durante toda a vida preso ao A, esse pequeno passo já é uma grande mudança.
Ele só precisa se permitir.
E, talvez, eles possam fazer essa coisa funcionar, o que quer que ela seja, pois nesse momento, nasceu algo muito maior do eu jamais serei, a promessa da esperança, que me marca, me queima e me sufoca.
10 pontos a menos para mim.
Eu acho que o meu tempo com Nick chegou ao fim.
Escrito em 2017 para um projeto aqui no blogger, criado pela Thaysa (dor da liberdade).
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