☼ Carta para: a mãe da minha melhor amiga


Olá, Andréia! Boa noite! Agora vamos parar com as formalidades, certo? Eu sei que você me odeia. Então vamos parar com os fingimentos. Eu sei que você me odeia pela ideia de mim que criou em sua cabeça. Eu sei que você me odeia, pois pensa que eu desvirtuei sua filha do caminho cristão ou sei lá. Eu sei, eu sei. Por isso, não vamos fingir, por favor, não vamos dar sorrisos falsos toda vez que eu entrar em seu carro ou forçar uma conversa porque eu sei que você não quer nada daquilo, na verdade, quer que eu esteja bem longe dali, bem longe da sua filha. Só peço que me diga uma coisa: o que eu fiz de tão errado?
Eu transformei sua filha em uma lésbica que gosta de coreanos gays? Quando, naquela época, eu mesma ainda era uma menina de 15 anos assustada com a descoberta de sua própria sexualidade e tinha medo de falar “eu gosto de meninos e meninas” e que lutava contra sua própria homofobia interna?
O que eu fiz de errado? Me apaixonei por uma garota? Dei uns selinhos em algumas garotas meses depois de tudo? É isso o que fiz de tão errado? É por que eu não sou cristã? Ou não tenho religião alguma? Você deve pensar de mim como uma desvirtuada, pecadora porque eu não sou nada do que você acha que é certo. Me desculpe, tá bom? Por ser uma adolescente e experimentar coisas. Peço desculpas por Jessica e por ela também ter tentando coisas novas. Mas a partir do momento em que essas coisas fugiram da sua concepção do correto, virou um problema, né? Você deveria parar de fazer Jéssica viver como você quer e tentar deixá-la viver à sua própria maneira. Olha, eu vou te tranquilizar: ela é hetero, totalmente. Até porque você negou a ela até o direito de descobrir o que não é.
E se eu sou a errada da história, então você é a certa? Você que vasculha os cadernos dela à procura de qualquer indício de ela a estar a desobedecendo? Você que invade a privacidade dela só porque você é a mãe e tem esse direito? Me desculpe, você não tem. Sabe do que a gente conversa na maior parte do tempo? Sobre esses coreanos aí, mas não suas sexualidades ou qualquer coisa do tipo, até porque Andreia eles também são homofônicos para caralho. A gente fala disso porque é o que gostamos e o que nos fez nos aproximarmos.
Jessica não é uma boneca cuja vida segue da maneira que a dona quer, ela tem vida própria escolhas próprias. Olha, você é uma ótima mãe quando não está machucando a sua filha. Sabe quem tá lá para ouvi-la chorar porque a mãe está a deixando doente mentalmente? Eu. Eu mesma. Aquela que você odeia. Aquela que foi umas das primeiras amigas de verdade dela. Por que antes do nosso grupo, ela não tinha ninguém além de amizades superficiais e falsas.
Mas olha, me desculpe por não ser quem você quer. Você não precisa gostar de mim, eu não sou a sua amiga. Mas Jessica realmente não está fazendo nada do que você considera errado, então por favor, a deixe em paz, ela é uma adolescente e ainda vai errar muito na vida, mas isso faz parte. Me diz: você nunca errou? Sempre foi perfeita? Eu duvido.
Mas se você quer me odiar, beleza, vai em frente. Nem todos poderão gostar de mim. Contudo, se você for mesmo fazer isso, por favor, odeie aquilo que conhece e não o conceito que você pensa que tem de mim, pois o meu verdadeiro eu, ah, você não tem ideia.


Os nomes utilizados são fictícios, mas sim, a história é verdadeira, é algo que estou lidando e tá me incomodando bastante. Desculpem por ter sumido, eu simplesmente estive muito ocupada com o colégio - que basicamente é de tempo integral - e eu também não estava conseguindo e nem tinha vontade de escrever nada. Tentarei postar aqui sempre que der. Obrigada beijos!  ♥